estendido no chão e marcado a sangue, o corpo activou um pedido desesperado de socorro. «tudo ali era drama. simplesmente detestável. feio». do outro lado da linha de emergência – que a tradição americana fixou na combinação 911 – , a violência transmitia-se com prenúncios de escândalo.
whitney houston, a voz feminina mais premiada de sempre, regressava às manchetes dos jornais pelos piores motivos: tinha acabado de descarregar, à pancada e até aos limites da inconsciência, um telefone sobre a cabeça do marido.
«foi um daqueles momentos», recordou a cantora em 2009, ano da sua última grande entrevista televisiva, gravada a partir de recordações de drama para as câmaras da apresentadora oprah winfrey.
pela primeira vez desde o divórcio, selado em 2007, a apelidada princesa da soul assumia, em público e sem meias-palavras, as turbulências do casamento com bobby brown.
«estava ao telefone com uma amiga, a pedir-lhe que me fosse buscar porque tinha decidido sair de casa. foi quando ele me empurrou contra a parede. agarrei no que estava mais à mão e comecei a bater-lhe».
o episódio, servido à moda dos tablóides em 2003, conta-se hoje com o mesmo desfecho que acompanhou o momento final de whitney elizabeth houston, declarada morta no passado sábado, dia 11, às 15h55, hora de los angeles.
agora, como antes, foram os gritos de desespero da filha única da cantora que sonorizaram a confirmação de um prolongado drama familiar, iniciado quase desde as juras de felicidade conjugal, trocadas em 1992.
um ano depois, à boleia do estrondo do filme o guarda-costas – ao mesmo tempo sucesso de bilheteiras e de banda sonora – a união de houston e brown dava os primeiros sinais de ruptura, milimetricamente escrutinados perante as audiências de oprah.
«1993, 1994 e 1995 foram anos guarda-costas. o álbum fez tanto furor que tinha de estar em todo o lado e ao mesmo tempo cuidar da minha filha. por isso, a determinada altura ele disse: ‘vou contigo. não te preocupes. faz o que tens a fazer’».
whitney fez mais sucesso do que nunca e depressa superou os marcos que, desde o primeiro trabalho (whitney houston, 1985), a lançaram como uma das vozes maiores da indústria discográfica dos anos 80 e 90.
dependência de drogas
muito além dos 9 milhões de cópias que marcaram a sua estreia nos tops, quando tinha 22 anos, a ex-modelo conseguiu vender acima de 42 milhões de discos com a banda sonora da película, protagonizada ao lado de kevin costner. premiado álbum do ano nos grammy de 1994, e globalmente recordado pelo hit ‘i will always love you’, a ascensão mundial de o guarda-costas teve como reverso a queda emocional de whitney.
primeiro com marijuana, pouco depois com misturas de álcool, comprimidos e cocaína, os excessos tornaram-se uma constante na vida da actriz e cantora, que chegou a ser surpreendida com droga numa viagem ao hawai.
apesar de criminalmente inconsequente, o flagrante policial, registado em 2000, avolumou os rumores de toxicodependência e declínio, mais tarde agravados pelo fracasso do álbum just whitney ( 2002).
aquela voz de tantos aplausos, recordista de prémios (ver caixa) e referência maior para dezenas de nomes entretanto firmados na cena musical, perdia o brilho e arriscava calar-se para sempre.