Por isso, as discussões sobre a tolerância de ponto no dia de Carnaval sempre me passaram ao lado. Mas pelo facto de não me encantar com a festa, não significa que não reconheça que são muitos os que se divertem à grande em tal ocasião. Da mesma forma que fujo quase sempre da noite de fim-de-ano, salvo os casos em que são festas particulares, o mesmo acontece com o Carnaval. Admiro a paciência de quem se veste a preceito e procura a melhor máscara ou disfarce – curiosamente, sempre que há um aniversário de uma discoteca, a maioria dos convivas opta por ir como se fosse para o ginásio. Já na noite carnavalesca, cada um tudo faz para ser o mais original.
Uma das coisas que mais me irritam nessas noites são os excessos alcoólicos, pois quem não está mascarado nem bebido como se o dia fosse uma comédia acaba por ficar com uma ‘carantonha’ de todo o tamanho, tais são as secas que apanha. Dir-se-á que fica disfarçado de chateado.
A importação em massa da diversão do Carnaval terá, obviamente, a ver com os festejos brasileiros. Aqui, confesso, que um dia terei de arriscar uma ida até ao Rio de Janeiro nesta ocasião. Lá, a folia, a loucura, o prazer e os excessos estão no ADN dos participantes.Tudo parece natural, ao contrário de Portugal e afins. Mas também seria injusto se não dissesse que se nota um grande esforço de localidades como Torres Vedras, Ovar e Loulé para criar uma atmosfera especial nesta data. Além da festa propriamente dita, o comércio português recebe um belo balão de oxigénio.
P.S. Nesta época do politicamente correcto, no que a algumas matérias diz respeito, o mais caricato do Carnaval são aqueles pais meus amigos que me contaram que tiveram de se disfarçar de ovo, banana, melancia, árvore, galinha e demais animais e produtos hortícolas, de acordo com as escolas mais ou menos vegetarianas. Se as crianças com menos de seis anos já obrigam os pais a mascararem-se, será natural que a festa propriamente dita tenha o futuro assegurado.
vitor.rainho@sol.pt