e há episódios que percebemos mais tarde, com as tais revelações de ex-agentes arrependidos ou reformados, que me deixam perplexo com os meandros das jogadas de bastidores. muitas vezes são lançados para fogueira indivíduos que tiveram o azar de servir para tapar a verdade ou foram apanhados numa guerra de interesses. não sei se é o caso da personagem de que vou falar, pela qual não nutro qualquer simpatia, mas que é estranho, é. dominique strauss-kahn, antigo ministro da economia e finanças de um governo socialista francês e ex-director do fmi, passou a ser um nome vulgar quando foi detido por supostamente ter violado uma camareira num hotel de nova iorque. apesar de ter sido ilibado, ficou com o estigma de violador. no fundo, mesmo aqueles que acreditaram na sua inocência ficaram desconfiados de como tudo se terá passado. o homem não é, de facto, um exemplo moral para ninguém, mas, como ficou provado, não fez nada que a outra pessoa não quisesse fazer. tanto antes deste episódio como depois, dsk, como é conhecido, sempre assumiu que era um predador sexual e que gostava de ter várias parceiras. sendo francês, pátria de práticas libertinas – será escusado falar de termos que todos conhecem, como ménage à trois, ou do marquês de sade – o antigo homem-forte do fmi foi esta semana detido outra vez por supostamente ter alinhado com uma rede de proxenetas que lhe terá arranjado prostitutas que praticaram os seus serviços nos eua e em frança.
recorde-se que a prostituição não é crime na terra da torre eiffel e apenas os proxenetas podem ser condenados. é pois muito estranho que dsk se veja outra vez envolvido com a justiça por causa de ter recorrido ao serviço de prostitutas. o que têm as autoridades policiais e os demais intervenientes da sociedade a ver com o que ele faz em sua casa ou em hotéis?
a frança, que sempre foi um país onde os costumes aos outros pertenciam – houve um presidente que conseguiu esconder uma filha ilegítima durante mais de 20 anos, apesar de boa parte dos jornalistas saberem da história – virou-se agora numa cruzada moralista contra um homem que chegou a ser apontado como o grande opositor de sarkozy nas eleições presidenciais que se avizinham. um país onde os bares de sexo ao vivo são uma realidade preocupa-se agora com um ex-ministro desta forma?
repito, não tenho qualquer simpatia pela figura, mas julguem-no a ele ou a berlusconi pelas suas actividades políticas ou empresariais e não pelo que fazem nas suas camas.
vitor.rainho@sol.pt