na verdade, quando nos interessamos por alguém, raramente sabemos o que vai acontecer. quando somos mais novos, sonhamos, projectamos, imaginamos cenários, criamos expectativas altíssimas e o resultado é o que se sabe – quase sempre caímos da nuvem. ou então olhamos para as coisas ao contrário: não sonhamos, não pensamos muito naquilo, vamos deixando andar e, quando damos por isso, estamos numa relação séria.
já dizia john lennon, «life is what happens while you’re busy making other plans». e eu digo que a vida é cheia de óptimas surpresas. o que é preciso é olhar para ela com bons olhos e esperar o melhor dos outros, porque só isso já é um incentivo para os outros nos darem o seu melhor.
as relações crescem e desenvolvem-se sem que possamos controlar o seu crescimento: às vezes, amadurecem e fortificam-se, criam raízes e tornam-se quase inabaláveis; outras, estiolam e morrem, ou então azedam e estragam-se como um iogurte deixado fora do frigorífico.
é importante percebemos que se há uma parte que podemos controlar, há outra que tem a ver com a alquimia própria do amor e vida própria. não escolhemos por que nos apaixonamos, apenas escolhemos se devemos ou não continuar apaixonados por aquela pessoa, caso ela não sinta o mesmo por nós. e, mesmo assim, quando nos retiramos de cena, as coisas podem mudar, porque o que é verdade hoje amanhã pode não ser.
em caso de dúvida, é sempre bom fazer uma retirada estratégica e esperar sem esperar nada. estar quieto também é uma acção e manter o silêncio é uma arte: se desaparecermos, o outro pode sentir a nossa falta. e se sentir a nossa falta, vai ficar com saudades. e se ficar com saudades, vai procurar-nos. e é então que podemos decidir – e podemos mesmo – se queremos conversar, estar, ouvir, sentir, recomeçar ou o que for. chamo a este fenómeno de evolução nas relações, o efeito boomerang: o objecto é lançado, desenha um movimento elíptico, quase o perdemos de vista, pensamos que se perdeu no espaço, e volta ao ponto de partida quando já não estamos a contar com isso. é preciso ter paciência e algum sangue-frio e, mais uma vez, confiar na vida e esperar que ela nos traga o que for o melhor para nós. se o boomerang não voltar, então é porque se vai abrir outra janela de oportunidade e, por isso, há que estar atento.
o importante é saber virar o jogo a nosso favor no momento certo e sair de cena quando for para sair, ou voltar a entrar – ou deixar o outro entrar – se valer a pena. mas tem mesmo de valer a pena, senão, mais vale passar para o relvado que se segue, com um novo jogador em campo, já equipado de luvas e de chuteiras, motivado e animado, disposto a dar o seu melhor. nada como a frescura de todos os inícios, mesmo quando sabemos que o jogo pode acabar dali a 90 minutos.