após vários anos de défices da btc da ordem dos 10% do pib, portugal reduziu-o para 6,4% em 2011, «o valor que era esperado para 2012», explicando que foi um ajustamento «mais rápido do que a própria comissão europeia (ce) e fundo monetário internacional (fmi) julgavam nas suas próprias projecções».
«há um ajustamento rápido naquilo que é hoje o nosso maior problema que é o défice externo. sabemos que isso aconteceu porque o consumo interno se reduziu, mas as exportações também se comportaram bem (cresceram 15% em 2011)», afirmou.
«aquilo que portugal tem, muito fortemente, é um problema de défice externo que nos ia matando e consumindo porque íamos acumulando dívida ao exterior», disse, realçando «nesse ponto as notícias são boas e mostram a nossa capacidade de ajustamento».
adiantou: «temos de ter sempre cuidado com os sinais, mas também temos de tomar os sinais que são bons e ver que, nesse sentido, podemos ter alguma esperança».
portugal, apontado como o segundo elo mais fraco da zona euro, adoptou uma vasta agenda de austeridade para corrigir os seus desequilíbrios macro-económicos e garantir a sua solvência, visando afastar o cenário de reestruturação da dívida como se verifica com a grécia.
a evolução macro-económica portuguesa tem dado conforto à posição oficial dos líderes europeus de que a grécia é um caso único na área do euro.
como reverso da medalha, no imediato, as medidas de austeridade levam portugal a uma ‘cavada’ recessão, e o governo reviu a sua previsão para o pib em 2012, alinhando-a com a recente estimativa da ce, que prevê uma contracção do produto português de 3,3% este ano, face à queda de 3% prevista no outono e contra a contracção de 1,5% em 2011.
mas, a ce já tinha anunciado que os principais parceiros comerciais europeus de portugal deverão ter uma desaceleração e o facto é que bruxelas aponta agora para a contracção de 0,3% na zona euro em 2012, quando antes previa que crescesse 0,5%.
«o nosso ajustamento (revisão em baixa estimativa da ce) foi três vezes inferior ao que foi feito na zona euro. e esse é o único facto matemático com que posso responder», acrescentou.
e, com base na evidência empírica da ocde e em modelos de simulação do bce, banco de itália e banco de portugal, as reformas em curso, com redução de rendas e margens no mercado de trabalho deverá permitir ganhos consideráveis de cerca de 10 pontos percentuais no produto potencial a 10 anos.
«ou seja, se portugal fizer estas reformas comparando com não fazer, o país teria um ‘delta’, uma diferença de 10 pp devido a fazer aquilo que está a fazer. e isso não está nas nossas projecções macroeconómicas», destacou.
recordou que, «a partir dos três a cinco anos já se começam a ver resultados quantificáveis e é isso que os portugueses têm de ter comoesperança: as reformas são irreversíveis e vão trazer crescimento».
carlos moedas vincou que nas reformas estruturais, portugal tem conseguido, «em muito pouco tempo, fazer muita coisa», em campos como a credibilidade e a transparência no sistema de justiça, na lei dos compromissos, nova lei de arbitragem, nova lei da concorrência, recuperação e insolvência de empresas, competitividade e abertura da economia, mercado laboral, etc.
«foi realmente também aproximar e harmonizar o nosso mercado de trabalho com o mercado de trabalho fora de portugal. e, por fim, o estado, tivemos toda uma reforma do estado central», disse.
«a ‘troika’, no memorando (de entendimento), dizia-nos para reduzirmos 15 pct tudo o que eram estruturas e lugares de chefia e nós fomos muito mais além: cortámos efectivamente 27 pct nos cargos de chefia e quase 40 pct nas estruturas», recordou.
as reformas não vão abrandar e o governo está a centrar-se muito em tudo o que é a reforma do sector empresarial do estado (see) que é uma reforma que já começou.
«temos um plano estratégico dos transportes e a nossa ambição e o nosso objectivo é que as empresas do see, no seu conjunto, atinjam um ‘cash-flow’ operacional zero — que não gastem mais do que aquilo que produzem — no final de 2012. isto é um ponto muito importante», afirmou.
«é, sem dúvida, uma reforma muito importante porque vai permitir também que se possa dar crédito às pmes, se nós conseguirmos resolver o problema do see», disse.
outra reforma também em curso é a do sector local e regional.
«é isto que torna portugal um caso sustentável e torna-o um caso de sucesso na capacidade de reformar», afirmou.