No país da Dona Branca

Portugal não pode apertar mais o cinto da austeridade, mas precisa de baixar em 20 a 30 por cento os ordenados dos funcionários.

para um leigo na matéria, a afirmação de paul krugman, o tão aclamado vencedor do nobel da economia de 2008, é, no mínimo, estranha. como é possível não haver mais austeridade se os ordenados forem reduzidos?

os economistas, regra geral, conseguem fazer um diagnóstico da situação actual, mas, muitas vezes, quando tentam fazer conjecturas futuras, o resultado não é brilhante. independentemente do que venha a acontecer a portugal, fique ou não na zona euro, certo é que vamos pagar caro as mentiras do passado. mário soares contou recentemente que chegou a discutir com josé sócrates a necessidade de o país recorrer a ajuda externa. a confissão do antigo presidente da república não caiu bem em algumas hostes. o que não deixa de ser revelador da mentalidade lusa. em tempos, ‘reinou’ em território luso uma senhora de cabelos brancos que se tornou famosa por emprestar dinheiro a troco de juros de 10%. meio país apostava as suas economias na denominada banqueira do povo, que mais não fazia do que pagar os juros com os dinheiros dos novos depositantes. tudo foi posto em causa quando os clientes começaram a querer levantar o seu dinheiro e a banqueira, como não tinha novos depositantes, acabou por abrir bancarrota. portugal, actualmente, parece viver uma situação semelhante. para pagar salários precisa de pedir dinheiro à união europeia, que por sua vez exige contenção nos custos.

o que mais me intriga nesta história toda – e sou daqueles que acreditam que a economia europeia conseguirá dar a volta – é o papel que desempenharam no passado recente os actuais polícias dos bons costumes. como foi possível deixarem o anterior governo acumular tantas dívidas sem terem garantias que algum dia o caminho que estava a ser traçado pudesse inverter o descalabro das dívidas? é hoje claro, para aqueles que não se deixam enredar nas cores políticas, que foram os banqueiros e figuras gradas da sociedade portuguesa que conseguiram convencer o antigo ministro das finanças, fernando teixeira dos santos, a solicitar ajuda externa sem passar cavaco ao primeiro-ministro de então. é público e notório que nunca mais se falaram. sócrates não conseguiu perdoar ao seu ministro que este tenha tido a ousadia de reconhecer que o país não tinha condições para pagar os salários aos seus funcionários públicos, quanto mais outras despesas. mas se sócrates foi inconsciente até ao fim, onde estavam angela merkel e sarkozy (e vítor constâncio…), por exemplo? só há um ano é que descobriram as contas públicas portuguesas? para um leigo, é muito estranho.

vitor.rainho@sol.pt