trazia na mão uma edição do hellboy, da dark house. é fã de bd?
conheço o mike mignola [autor], mas foi o filipe melo que me deu esta juntamente com os dois livros dele [as incríveis aventuras de dog mendonça].
o filipe melo fez a primeira curta-metragem de zombies portuguesa.
sim, vi-a no primeiro motelx [festival de cinema de terror de lisboa]!
o primeiro desses livros tem um prefácio do john landis, o que por sua vez nos leva aos zombies do ‘thriller’ (1982), de michael jackson…
[risos] é verdade, eu e a minha mulher fizemos de zombies nesse videoclipe. éramos amigos do responsável pela caracterização e do john landis, desde a altura do meu primeiro emprego em cinema: a atender telefones para o star wars. no gabinete ao lado, o john landis estava a trabalhar no animal house [1978].
aparece a dançar?
não! havia zombies dançarinos, outros de fundo e outros para os planos aproximados, dos quais fazia parte. a nossa maquilhagem levou três horas a fazer.
dez anos depois voltou a trabalhar com michael jackson, mas no papel de realizador.
era um filme de 35 minutos chamado ghost escrito pelo michael e pelo stephen king. rodámos durante duas semanas num cenário gigante, em hollywood, sem sequer chegarmos à parte musical. depois aconteceu o escândalo da criança, o michael saiu do país e quando quiseram voltar ao vídeo eu disse que não. estava ocupado com a série televisiva do the shining e sabia que com o michael as datas nunca eram certas.
donde veio o fascínio do michael por lobisomens?
foi depois de ver o american werewolf in london [1981], do john landis. foi já em adulto que começou a gostar de terror.
foi o seu caso?
não. a minha família não era feliz, havia muitas discussões, e eu refugiei-me desde cedo no fantástico, queria ver mundos alternativos àquele que vivia ou ver coisas piores do que aquelas que vivia. os filmes de monstros da universal foram a primeira coisa que me fez dizer: ‘uau! isto foi feito para mim’.
era pouco popular na escola?
sim, acho que os desajustados na adolescência costumam sentir-se atraídos pelo lado negro das artes. tinha 12 anos quando fiz o meu primeiro filme com uma câmara de 8mm de 10 dólares. construí um caixão, distribuí os papéis pelos meus vizinhos e chamei-lhe o retorno do conde.
qual é o seu episódio preferido da série masters of horror?
gosto muito do ‘the black cat’, do stuart gordon, adaptado de edgar allan poe. é sobre o próprio poe e a morte da sua mulher.
a sua ligação ao cinema vai sempre dar à literatura. lembra-se do dia em que conheceu stephen king?
só o conheci ao vivo quando ele veio às rodagens do sleepwalkers para fazer um cameo. nessa manhã, enquanto tomava o pequeno-almoço, parti um dente. tive de ir ao dentista pôr uma coroa e a seguir fui a correr para ainda o apanhar, porque ele só ia ficar duas horas. foi assim que ele me conheceu, com a cara inchada. mas foi muito divertido, ele adorou fazer parte das filmagens e depois fui a nova iorque mostrar-lhe o resultado. ele e a mulher tiveram um visionamento só para eles e adoraram.
foi assim que o conquistou?
[risos] digamos que resultou! ele é um pouco mais velho, mas ainda assim fazemos parte da mesma geração e temos muitas coisas em comum. crescemos com as mesmas séries (twilight zone, tales from the crypt…). e crescemos com as nossas mães, em circunstâncias de dificuldades económicas, porque os nossos pais separaram-se quando ainda éramos muito novos.
como veio o pierce brosnan parar a uma mini-série televisiva e de terror?
o agente dele costuma sair comigo e com o stephen king, por isso quando ele próprio sugeriu o pierce brosnan para o papel, que nós já queríamos antes mas pensávamos que ele nunca fosse aceitar, aproveitámos a oportunidade! todos pensam nele como o james bond, mas eu já o tinha visto no filme independente the matadore onde fazia um papel completamente diferente. no início do bag of bones vemo-lo como um tipo que perde a mulher e chora. é uma imagem poderosa.
fez uma combinação pouco provável: romance e terror.
sim, não é um típico filme de terror vendido para adolescentes como a indústria americana costuma fazer. eu tenho cabelo branco e continuo a gostar de terror. trabalhei o medo e a paixão, que são algumas das nossas emoções mais profundas. quis que fosse humano… oh, eu sou um romântico!