dezenas de actores foram lançados com uma facilidade impressionante, fazendo com que alguns passassem a ter o estatuto de estrelas a um ritmo diabólico. alguns já ficaram pelo caminho, outros perderam-se definitivamente, enquanto outros souberam aproveitar a oportunidade para cresceram profissionalmente. para que a novela se mantenha no ar, ao fim de tantos anos, é preciso que toda uma indústria a alimente. uns tantos jornais e muitas revistas ditas do social revelam quase diariamente as facetas públicas de tais criaturas. sem se dar por isso, criou-se uma nova forma de vida, muito ligada, obviamente, ao facilitismo. enquanto as personagens vão dando audiências, são usadas e usam também os meios de comunicação. digamos que se exploram mutuamente.
há dias estava numa reunião e ouvi a expressão ‘geração morangos com açúcar’. e a que se referia a pessoa em questão? era aos actores e actrizes que vão enchendo diariamente o espaço da tvi ? não, a expressão referia-se a uma forma de estar na vida. «não sabes que eles não pagam nada do que consomem? querem casar? então vendem o exclusivo a uma revista. querem comprar um carrinho para o bebé? vão a uma loja e fingem que foram apanhados a fazer compras, quando na verdade tudo é encenado. querem mobilar a casa? a história é a mesma… é isso a geração morangos com açúcar».
criou-se, de facto, nos últimos anos uma forma de vida bastante diferente do que era comum. por isso uma boa parte das pessoas deixou de reger-se por determinados valores, até então sagrados. o culminar dessa nova filosofia é dado pelos pais que não sonham em dar uma boa educação aos filhos, mas antes tentam por todos os meios que sejam jogadores de futebol, modelos ou actores dos tais morangos.
é trágico? não me parece, mas a crise pode ter um papel importante na recuperação de valores como a dedicação, o talento autêntico, o esforço e a solidariedade. em que as pessoas dêem valor ao que alcançam e não pensem que tudo são facilidades. nos últimos tempos, tenho assistido a alguma retracção na forma de vida ‘moranguita’. o comércio começa a perceber que essas formas de publicidade não têm o retorno desejado, e aqueles que expõem a sua vida de uma forma tão escancarada perdem parte do seu encanto. no fundo, nos últimos anos assistimos àquilo que outros já viram há uns bons anos. portugal, sendo um país periférico, acolhe as modas sempre com algum atraso.
vitor.rainho@sol.pt