o cabelo também era quase curto, com um corte direito ornado por uma bandolete fina e elegante. depois, deixou crescer o cabelo e foi ficando mais feminina, embora em algumas versões aparecesse morena, de cabelo emproado, com ar de mãe dos anos 60. tinha adereços como carro, casa, roupa, guarda-vestidos e até namorado, paul, que sofreu uma evolução semelhante à rapaziada dos beatles, mas sem disco de platina pelo caminho – passou do jovem bem comportado de camisola de gola alta e franja à trunfa emaranhada, pêra e bigode, com casaco fluorescente de rock star e calças justas a condizer.
depois veio a barbie, criada pela norte-americana ruth hendel, co-fundadora da mattel, e o seu namorado ken, quase tão famoso como ela. a invenção da barbie em 1959 – que já conheceu mais de 125 versões e já foi vestida por mais de 70 estilistas – mudou para sempre o conceito de beleza no mundo ocidental, tiranizando os estereótipos femininos de forma cruel e irreversível. com a barbie e a marilyn monroe as loiras ganharam a pole position e nunca mais de lá saíram.
o binómio cintura fina–peito farto em estilo ampulheta tornou-se um ícone feminino incontornável, reforçando as linhas elegantes do tempo dos espartilhos e nós, mulheres, ficámos espartilhadas neste ideal, muito mais do que os próprios homens. a ambição à perfeição física tornou-se uma obsessão e as imagens das top models nunca mais deixaram de contaminar o nosso imaginário. ainda hoje, elle mcpherson faz campanhas onde exibe as suas pernas infinitas, a cintura de vespa e o peito firme, para gáudio das marcas que a contratam e frustração das mulheres que a invejam.
a tirania da barbie não destruiu as mulheres menos bonitas, porém muito mais interessantes, mas cristalizou o mito da loira burra, fútil, interesseira e tonta, de forma que as loiras que não o são coleccionam ao longo da sua existência insultos velados e equívocos escusados por parte de homens mais ou menos misóginos.
não me posso esquecer de um crítico literário que escreveu num jornal visto como sério que eu conseguia boas vendas dos meus romances no brasil porque, segundo ele, tinha um bom rabo. esse palerma, que nunca me acompanhou numa ida à praia, certamente pensava que eu era uma barbie da literatura, e como tal, não sabia escrever. ou pelo menos foi isso que deu a entender nestas e noutras críticas cujo nível era semelhante, ou seja, abaixo do nível do mar.
entre os efeitos colaterais que a invenção da barbie provocou existe este – o de, à partida, não se levar uma loira a sério, a não ser que a sua atitude se imponha por si. não é a cor de cabelo nem a copa do soutien que determinam a inteligência de uma mulher. ou será que os homens não percebem isso? por estas e por outras é que gosto tanto de assunção cristas, estela barbot e teresa caeiro.