Das duas uma

Esta semana, as enormes discrepâncias na medição das audiências da TV (a RTP baixou de 20% para 13%!), por efeito da mudança do contrato da anterior empresa (a Marktest) para a GFK, deu origem a polémicas e acusações e deu origem a uma nova desautorização do presidente da RTP, Guilherme Costa por parte do ministro…

já antes, o ministro, ao mesmo tempo que reconduzia o presidente do conselho de administração, a quem encomendara um estudo para redução dos custos da empresa, tinha vindo desautorizá-lo, ao declarar, sem qualquer justificação, que a empresa deixaria de ter publicidade, quando as receitas publicitárias faziam parte dos planos de redução de custos que a equipa de guilherme costa havia apresentado. tudo isto vem aumentar o clima de instabilidade que rodeia a vida da rtp, cujo destino é incerto, e que, por sua vez, arrasta a incerteza nos outros operadores e condiciona os efeitos da nova lei de cinema que está em discussão.

a medição das audiências é vital, sobretudo, para as tvs privadas que vivem quase exclusivamente da publicidade, cujo preço é valorizado em função do impacto dos programas no público consumidor. o ministro veio dizer, sem medir as palavras, que a rtp devia preocupar-se com a qualidade e não com as audiências, quando a administração da empresa tinha acabado de reclamar contra a gfk pelo que alegava ser a falta de rigor nos métodos de audimetria.

esta polémica, depois dos anúncios da privatização de um canal da rtp e o escândalo que está a ser a implantação da tdt, vem trazer ao de cima a enorme trapalhada em que vive o audiovisual, cuja importância na qualidade da vida democrática é vital para os cidadãos. de facto, os efeitos das audiências na captação da publicidade não deveriam preocupar a rtp, se vier a concretizar-se o anúncio extemporâneo do ministro relvas de lhe retirar a publicidade. mas as audiências são, por outro lado, um medidor da identificação dos portugueses com a sua tv pública; e, nesse sentido, as palavras precipitadas do ministro são um paradoxo.

a medição do desempenho da rtp tem que ser escrutinada, tendo em conta critérios que não são apenas quantitativos e que devem ter em conta o facto de os seus dois canais terem uma programação vertical (programas diferentes ao longo da semana), ao contrário dos privados que têm uma programação horizontal (a mesma grelha ao longo da semana), precisamente porque uma das missões do serviço público é a diversidade da programação para poder atingir uma multiplicidade de públicos e de gostos. é o chamado ‘barómetro qualitativo’, que existe em países como a espanha, a frança e a itália, e que, em portugal, está previsto no artigo 34. do contrato de concessão. nomeadamente, através da inquirição da «opinião dos públicos sobre a qualidade e o valor social da programação disponibilizada [pela rtp] e respetivos índices de satisfação, apurados, designadamente, através de estudos levados a cabo por entidades independentes e de reconhecido mérito». o problema é que, até agora, ninguém se preocupou em encomendá-los.

apvasconcelos@gmail.com