diariamente, os doze habitantes daquela localidade da freguesia de alverca do ribatejo, na maioria idosos, arriscam-se a atravessar a movimentada linha ferroviária do norte, num local com pouca visibilidade, para ir até à cidade, regressar a casa, colocar o lixo no contentor ou recolher a correspondência, uma vez que, por questões de segurança, o carteiro se recusa a atravessar a linha.
a única alternativa segura para o atravessamento da via é uma passagem de nível colocada a 530 metros, cujo acesso é feito através de um caminho em terra batida, paralelo à linha férrea e aberto pela refer há cerca de cinco anos, em propriedade privada.
os moradores sentem-se abandonados e acusam a presidente da câmara de vila franca de xira, maria da luz rosinha, e a refer de nada fazer para criar uma alternativa segura. os doze habitantes ficaram ainda mais revoltados depois de saberem que a empresa se prepara para vedar com muros o acesso à linha para impedir o seu atravessamento sem, mais uma vez, arranjar primeiro uma solução.
«esta situação tem causado muitos transtornos à população e ninguém faz nada. a minha filha falou há cerca de um mês com a rosinha [presidente da câmara] e ela disse que iam fazer uma ponte, por baixo ou por cima» da linha férrea, adianta carmo cadório, 76 anos.
os sustos ao atravessar a movimentada linha do norte são constantes e as histórias difíceis de esquecer.
«a 22 de dezembro ia ficando debaixo do comboio. estava nevoeiro, não se via nada, e eu e os meus filhos, de 15 e 11 anos, quase fomos apanhados pelo alfa pendular. demos uma corrida e conseguimos fugir com as compras. é uma situação muito perigosa e arrepiante», conta patrícia gradiz.
questionadas pela lusa, a câmara de vila franca de xira e a refer enviaram respostas escritas.
a refer informa que, no passado, existiu no local uma passagem de nível particular que servia uma empresa, a qual fechou, e, por consequência, o acesso à linha foi vedado. a refer acusa ainda os habitantes de não respeitar a decisão.
«verifica-se que a vedação é, recorrentemente, vandalizada, propiciando a utilização daquele canal para atravessamento da linha, colocando em risco quer os utilizadores, quer as circulações ferroviárias. neste sentido, a acção programada pela refer para o local visa repor as condições de segurança, impedindo a violação do canal ferroviário e o atravessamento ilegal da via», explica.
a empresa revela que, «entretanto, foram iniciados contactos tendo em vista a construção de um atravessamento desnivelado nessa zona (a promover através de protocolo tripartido entre a refer, a autarquia local e a empresa proprietária dos terrenos), os quais ainda estão em curso».
esclarece ainda que, «até à sua concretização, o atravessamento da linha deverá ser efectuado na passagem de nível automatizada que existe a cerca de 530 metros».
já a autarquia vila-franquense sustenta que «as decisões em torno desta situação são da refer, junto de quem o município tem intercedido no sentido de serem encontradas as melhores soluções».
o município acrescenta, porém, que, no âmbito da requalificação da margem ribeirinha da zona sul do concelho, está prevista, «a médio/longo prazo, uma operação urbanística com acesso por uma passagem superior à linha férrea, a realizar pelo promotor».
«já lá vão 12 ou 13 anos nesta situação e ninguém resolve nada. está prevista uma alternativa por cima [da linha], mas só no fim de os moradores morrerem, talvez aí eles consigam arranjar uma alternativa», diz revoltado, libertino martins, 58 anos, morador no local há quase 40.