Ana Guiomar: Moranguita, com muito gosto

Os nervos consumiam noites atrás de dias, quando uma voz falou mais alto. «Guiomar, tem calma. Tu já actuaste para o [encenador] João Lourenço que é uma das pessoas que mais sabe de teatro em Portugal, por que é que vais ter vergonha de representar para os outros? Fazes a peça e acabou».

o ultimato, imposto pela própria guiomar como preparação para a estreia em palco, cumpriu-se na representação de purga _– encenada no ano passado – e aplaude-se agora com indicações de reconhecimento.

recém-nomeada melhor actriz de teatro, pela sua primeira aventura em cena, ana guiomar disputou o galardão ao lado das já versadas luísa cruz e sandra faleiro. a distinção, da sociedade portuguesa de autores, acabou por premiar a interpretação de luísa cruz na peça a varanda mas permitiu ainda revelar o apelido guiomar além do pequeno ecrã.

«acredito que antes da purga a crítica teatral nem sequer me conhecesse», admite a actriz ao sol, demarcando-se de qualquer complexo de menoridade artística, após oito anos de tv.

«chamam-me moranguita porque foi nos morangos [com açúcar] que comecei a carreira. mas não sinto que isso tenha um sentido pejorativo, até porque em portugal quase todos os actores passaram pela série – tirando talvez o joaquim de almeida que não vive cá. se existe esse preconceito tem de ser para todos».

 

erasmus em taiwan
desde os 14 anos no pequeno ecrã, onde se tem popularizado com personagens de séries e telenovelas, ana guiomar garante que está na tv para durar. «adorei a experiência no teatro, mas continuo a gostar muito de fazer novelas».

a última, laços de sangue, foi internacionalmente galardoada com um emmy, e a próxima – o remake luso de dancin’ days – começa a ser gravada neste mês.

entre um e outro trabalho, ambos com a marca das co-produções sic -tv globo, contou-se a história de purga, estreada no verão e reapresentada já na recta final de um 2011 marcado pelo emmy.

para trás, também no ano passado, o calendário da actriz assinala ainda uma inesperada viagem a oriente.

«taiwan? mas quem é que vai para lá?!». a incredulidade de ana mantém-se mais de dois meses depois do regresso. convidada para uma competição entre estudantes de conservatórios de todo o mundo, a actriz rumou para a antiga ilha formosa com a curta-metragem beija-me depressa na bagagem. mas nada de confusões: ana participou como parte do elenco, não como aluna de cinema. ainda assim, é com referências de estudante que recorda taiwan.

«não ganhámos nada, mas a experiência permitiu um intercâmbio muito engraçado porque estavam lá estudantes de países estranhíssimos, como a mongólia. no fundo, aquilo foi o meu erasmus».

sem planos imediatos de formação superior – e com algumas disciplinas do 12.º ano ainda por despachar –, é na acção das gravações que a actriz prefere investir .

«sei que tenho muito para aprender, mas desde que comecei estive no máximo mês e meio parada, sem saber qual seria o projecto seguinte. talvez por isso, não me veja a fazer uma pausa de dois ou três anos para me dedicar ao conservatório».

100% disponível para o mercado de contratações – onde se iniciou com pouco mais de 10 anos através de campanhas de publicidade – ana guiomar confessa que nunca rejeitou ofertas de trabalho, excepção feita para «uma e outra proposta de revistas masculinas».

pelo contrário, o não está garantido sempre que o pedido compromete a intimidade com o namorado, e também ex-moranguito, diogo valsassina. «apesar de algumas insistências, não damos entrevistas em conjunto nem abrimos as portas de casa para as revistas».

cada um no seu lugar mediático, ambos continuam contudo a ser bombardeados com perguntas do coração. «como estamos juntos há sete anos não há entrevista em que não nos perguntem pelos filhos», conta a actriz, já habituada a responder com a prematuridade dos seus 23 anos. «daqui a 10 anos quando de facto tiver idade para ser mãe, imagino a conversa: ‘então, e já pensou reformar-se’?». antes disso, ana guiomar promete revelar-se em novos capítulos.

paula.cardoso@sol.pt