Jeremy Irons: ‘Há qualquer coisa de muito mágico em Portugal’

Dezoito anos depois de terem filmado A Casa dos Espíritos em Portugal, o actor Jeremy Irons e o realizador Billie August estão de regresso ao país para, desta vez, transpor para o grande ecrã ‘Comboio Nocturno para Lisboa’, uma adaptação do romance homónimo de Pascal Mercier. As filmagens desta longa-metragem, uma produção luso-alemã-suíça, começam amanhã,…

veja aqui a fotogaleria

sobre o regresso ao nosso país, o actor britânico disse estar «muito contente», uma vez que as recordações que tem de ‘a casa dos espíritos’ «são muito felizes». «estivemos imenso tempo no alentejo, como sabem, e depois em lisboa, e há qualquer coisa de muito mágico no vosso país», mencionou jeremy irons hoje à tarde, numa conferência de imprensa de apresentação de ‘comboio nocturno para lisboa’, no hotel pestana palace. «ontem [sábado] na viagem de avião de londres para cá, comecei a lembrar-me porque gosto tanto de portugal. estou muito entusiasmado com as próximas quatro semanas», reforçou.

quanto à sua personagem, o actor explicou que raimund gregorious é «um filósofo e professor de latim suíço, um homem que vive por sua conta e que acaba por se encontrar durante uma série de acontecimentos numa viagem de comboio para lisboa». a história relata ainda o encontro de raimund com um misterioso autor português, amadeu de prado, um aristocrata rebelde opositor ao regime de salazar.

questionado sobre qual é o seu conhecimento sobre este período da história portuguesa, jeremy irons pediu para lhe perguntarem daqui a um mês. «estou no processo de aprender. acabei agora de filmar a nova adaptação de henry iv, de shakespeare [para a bbc], e neste momento sei muito sobre ele. daqui a quatro semanas saberei mais sobre salazar», assumiu. «para mim», acrescentou, «parte da história é sobre um homem a abrir-se, a tornar-se consciente da vida de uma forma que nunca tinha pensado antes. por isso, ‘comboio nocturno’ para lisboa é uma história de descoberta, de mistério e de aventura».

o realizador dinamarquês billie august também sublinhou o entusiasmado por estar, de novo, a filmar em lisboa e revelou que quando lhe fizeram o convite para realizar ‘comboio nocturno para lisboa’ aceitou na hora. «li o livro, há seis anos, por causa de lisboa e durante a leitura voltei à vossa cidade. o que gosto em lisboa é o facto de ser uma cidade cheia de mistérios, de segredos. como o jeremy disse há uma magia na cidade e esse vai ser o desafio maior: apanhar e reproduzir esse mistério no nosso filme», comentou.

além de jeremy irons, o filme conta, entre outros, com a participação de mélanie laurent, charlotte rampling, christopher lee e, do lado nacional, nicolau breyner e beatriz batarda.

 quatro milhões de euros ficam em lisboa

ana costa, da cinemate, a produtora nacional do filme, também esteve presente na conferência de imprensa e manifestou o seu orgulho em fazer parte deste projecto. «noventa por cento da rodagem será feita em lisboa e penso que esta é a primeira vez que o nome da cidade aparece no título de um filme com esta projecção internacional. isto é uma grande rampa de lançamento na divulgação de lisboa no mundo», considerou a produtora, sublinhando ainda os cerca de quatro milhões de euros que o filme vai deixar na cidade. «esta co-produção europeia tem um investimento de 7,740 milhões de euros, sendo que mais de 3,500 são despendidos em lisboa».

além disto, ana costa falou ainda dos problemas que o cinema nacional atravessa, nomeadamente a paralisação, há quase quatro anos, do fundo de investimento para o cinema e audiovisual (fica). «a nível europeu tivemos o apoio do fundo eurimages, e a nível nacional do instituto do cinema e audiovisual (ica) e do fica, mas tivemos de nos substituir ao fundo porque essa verba nunca chegou», lamentou.

solidário com a situação actual do cinema em portugal, günther russ, produtor alemão do studio hamburg, disse que apesar de não conhecer exactamente o que se passa, ouviu com atenção do discurso «dos dois realizadores [miguel gomes e joão salaviza] premiados no festival de berlim». por isso, reforçou, todos os estados devem apoiar o cinema porque é uma actividade com retorno económico.«nós estamos aqui em lisboa a gastar dinheiro!», disse, de peito cheio.

alexandra.ho@sol.pt