na quarta-feira é lançado ‘rising’, a primeira parte do seu quinto álbum a solo. a segunda só sai em setembro. como vai ser este ‘seasons’?
a ideia é a de que a edição de um disco possa durar um ano porque estas canções foram escritas durante o percurso de um ano. além dos dois discos, haverá canções extra distribuídas online, em dias específicos até março de 2013.
por que quis lançar o registo assim?
já fiz muitos discos convencionais, em que faço várias canções e, depois, reúno aquelas que fazem sentido enquanto conjunto. desta vez não quis controlar tanto esse processo. quis fazer um disco que tivesse uma espécie de diário musical, organizado de forma cronológica. por isso é que há muitas coisas mais extremas neste disco.
tem o hábito de escrever diários?
não, nada. acho que só escrevi um em miúdo, mas espero que já tenham queimado isso… [risos]
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de que falam estas canções?
falam de coisas que me impressionaram ao longo deste ano. quando faço um disco gosto de estar atento às pequenas coisinhas, aos detalhes meio invisíveis que acontecem no dia-a-dia das pessoas e trago isso para as canções.
funciona bem com a obrigação de escrever?
escrevo sistematicamente por impulso e foi por saber que funciono assim que surgiu este projecto. a grande diferença foi que, desta vez, quis propositadamente descontrolar todo o processo de fazer um disco. assumi que cada canção que aparecesse fazia parte do registo e não limei nada para ter uma uniformidade.
é conhecido pelo seu lado mais introspectivo, mas ‘rising’ é, maioritariamente, um álbum festivo. porquê a mudança?
é verdade, mas acho que essa visão de uma certa melancolia tem a ver com o gigantesco número de singles que lancei dentro desse prisma. os meus discos não são assim, muito menos os meus espectáculos ao vivo. por isso, para mim é normal que grande parte do disco seja mais festiva do que o costume. quando começo um projecto fico sempre muito excitado e é normal pegar nas coisas mais festivas de todas. nunca arranco devagarinho para nada.
e o aprofundamento da electrónica como surge?
a electrónica também sempre existiu nas minhas canções. não desta forma tão declarada, claro, mas tenho muitos sintetizadores em casa e adoro música electrónica. sempre quis trazer este lado para a minha música, mas nem sempre é fácil porque as minhas canções não se prestam a isso. desta vez, acho que consegui trazer esse universo electrónico e o primeiro single não tem uma única guitarra, é tudo sintetizadores.
depois da parte festiva, os últimos temas são mais ásperos…
é verdade. mais uma vez teve a ver com a altura em que estava a viver tudo isto. as últimas canções foram escritas no final do verão, quando o cansaço da digressão já se tinha instalado. acho que a minha escrita tornou-se mais sórdida por causa disso. mas o que me aliciava nesta forma de fazer o disco era não refrear nada. era continuar à procura das coisas, mesmo que elas fossem mais estranhas.
quando lança um disco é habitual vê-lo no top de vendas. o sucesso ainda o surpreende?
é uma coisa em que nunca penso. principalmente quando um disco novo sai, em que ele ainda é um bocadinho meu. por isso, não vou para a cama a pensar no sucesso. estou sempre muito mais preocupado na forma como vou transmitir uma certa ideia artística. e, mais do que estar no top de vendas, a ideia de que as pessoas vão incluir estas canções na sua vida é o maior elogio que me podem fazer.
hoje, para vingar na música, um artista tem de ser inventivo?
tenho a certeza que sim. o mercado é cada vez mais difícil e está saturado de ideias, de pessoas, de discos e de canções. para furar é preciso ter uma visão artística singular, mas também ser inventivo. pessoalmente não conseguia fazer isto se fosse uma profissão normal. ser músico é ter a oportunidade de estar sempre a fazer coisas completamente diferentes. para mim, fazer um disco é uma aventura total e pode ser sempre a última. nunca tenho a sensação de que vou fazer mais dez discos no futuro.
a fotografia é outra das suas paixões. nunca pensou tornar a coisa mais séria?
infelizmente não tenho tempo para isso. ando sempre com uma câmara comigo e fotografo seriamente todos os dias da minha vida. mas não acho que todas as coisas que uma pessoa faz tenham de ser públicas. não tenho essa necessidade estranha e absoluta de estar sempre no olho público.
o impulso da fotografia é diferente do da música?
não, é muito parecido. na música, tal como na fotografia, uma pessoa procura a canção todos os dias. a procura é sempre uma motivação. na criação artística tem de haver sempre uma fixação muito grande, um certo método, quase insano, de todos os dias nos direccionarmos para um lado, para uma perspectiva nova e diversificada.