‘A nossa opção é diametralmente oposta à de Salazar’

Em vésperas de visitar Luanda, Vítor Gaspar deu uma entrevista ao SOL.

a política por dentro é como a imaginava quando a via de fora?
a minha definição preferida de actividade política em democracia foi proposta por joseph schumpeter. em democracia, o poder de decidir deriva da competição pela obtenção do voto popular. neste sentido, nunca estive (nem conto vir a estar) envolvido em política. a legitimidade política do governo passos coelho deriva do mandato claro obtido nas eleições de 5 de junho. por outro lado, nos últimos mais de vinte anos, após ter acabado o meu doutoramento, tenho estado constantemente envolvido na condução de política económica: política orçamental, política monetária e integração europeia. tenho acompanhado por dentro a política neste segundo sentido desde há muito tempo.

a sua relação com o primeiro-ministro recorda a que existia entre ernâni lopes e mário soares em 1983. conhece bem esse período?
não conheço esse período em pormenor. nunca me debrucei sobre o processo político. registo, no entanto, que o ajustamento do sector privado foi muito bem-sucedido e que a eliminação do défice externo foi uma das condições que permitiu a portugal crescer rapidamente após a adesão às comunidades europeias.

também já o compararam a salazar, na sua exigência de controlar tudo e ser um superministro. incomoda-o essa comparação?
julgo que a situação actual não se pode comparar com a vivida na transição para o estado novo. desde logo, portugal é hoje firmemente uma sociedade aberta, democrática, respeitadora dos direitos humanos, dotada de um estado social e profundamente empenhada na integração europeia. é em democracia que temos de desenvolver o quadro institucional, os procedimentos, as regras de comportamento e os hábitos que permitirão o respeito sustentado pelas exigências de equilíbrio orçamental. salazar optou por uma estratégia de fecho do país sobre si próprio. durante décadas, prescindiu da possibilidade de se financiar nos mercados financeiros internacionais. a nossa opção é diametralmente oposta. a medida do nosso sucesso está na nossa capacidade de – como sociedade aberta e democrática – fundamentar a nossa prosperidade na capacidade de competir no mercado único europeu e na economia global.

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