Ventos de mudança

Em dois anos, desde a minha primeira visita, muita coisa mudou por estas bandas. As alterações notam-se em todos os campos, mas na que diz respeito à noite, é evidente que os costumes deram uma grande volta.

Do que me foi dado a ver, na Ilha de Luanda concentravam-se as discotecas onde expatriados e angolanos conviviam animadamente. Eram, e são, clientes mais dados a batidas comerciais. Enquanto uns caprichavam na vestimenta, outros saíam como se fossem para um jogo de futebol. Nada mudou nos últimos tempos. Por essa altura da primeira visita, além das discotecas tipicamente africanas, como era o caso do W ou do Mayombe, havia o Elinga, que albergava as gentes mais vanguardistas da cidade. Fossem angolanos, portugueses ou de outras proveniências. Ali o mundo teatral tinha e tem o seu espaço privilegiado. Batidas menos comerciais ditam leis e os clientes primam por alguma rebeldia. Pessoas ligadas às artes fazem do Elinga o seu ateliê de eleição. Sendo uma matéria relativamente sensível no continente africano, a homossexualidade sempre foi vista como algo condenável, e, por essa razão, havia como que um certo secretismo nos seguidores de tais correntes.

Em pouco tempo as coisas alteraram-se e uma das personagens preferidas nos acontecimentos sociais é precisamente um travesti. Aos poucos o armário foi-se abrindo e hoje, nos meios mais progressistas, ninguém estranha a presença de homossexuais. O mesmo não se passa nos bairros mais pobres…

Mas o maior sinal de mudança é dado pelo bar 300, que à quarta-feira tem a melhor onda de Luanda. Nos pratos está um DJ que pode passar música em qualquer capital do mundo e na assistência há travestis, homossexuais e demais figuras que convivem tranquilamente. Ali ninguém se incomoda com os outros e nem mesmo os portugueses mais alcoolizados são hostilizados. Chega a ser engraçado assistir às várias formas de dança. O cenário recorda-me a frase um grande amigo que costuma referir-se à noite da seguinte forma: «Não sei se é um teatro se um circo». Pouco importa. O que é preciso é as pessoas divertirem-se.

vitor.rainho@sol.pt