ao fim-de-semana é vê-los a caminho da ilha, do mussulo ou de cabo ledo. nos primeiros dias andam mais cautelosos e demonstram alguns receios naturais de quem está num país diferente, num continente diferente. mas não vejo, no fundo, grandes diferenças para aqueles que fazem a sua vida profissional, por exemplo, no brasil.
voltando a luanda, na imprensa privada daqui tem sido dada especial atenção à manifestação de 30 jovens que terão sido espancados por personagens de cuja origem muitos desconfiam. em vários artigos de opinião, intelectuais, académicos e políticos manifestam-se contra a brutalidade empregue nessa ocasião. a própria imprensa do estado admitiu que seria aberto um inquérito aos acontecimentos. este é um dos temas, mas já está a ficar para trás. os africanos não gostam muito de estar sempre a olhar para o que aconteceu. outro dos temas em destaque na referida imprensa privada é a ostentação da riqueza por parte de alguns membros do partido do governo. a nova lei das armas ou da paternidade também teve alguma cobertura. claro está que as eleições de setembro monopolizam grande parte dos jornais e ora são os padres ora são os partidos da oposição a apelarem à transparência do acto. qualquer pessoa pode comprar na rua um dos semanários onde estes temas são escalpelizados. há até um jornal muito aclamado em portugal que é um verdadeiro hino à xenofobia e ao racismo e não percebo como é que alguém consegue defendê-lo tanto…
também nos últimos tempos, um tema tem merecido destaque na imprensa pública e privada. falo daquilo que é considerado por estas bandas como uma ‘guerra’ da justiça portuguesa contra os interesses angolanos. fala-se mesmo em xenofobia e racismo e não faltam referências à possibilidade de as empresas portuguesas serem alvo de medidas idênticas. a população, de um lado e de outro, regra geral, parece passar ao lado desses problemas. as pessoas cruzam-se bem e enquanto os portugueses vêem o presente como uma aposta no futuro, os angolanos olham para a mão-de-obra qualificada como uma mais valia – mas a verdade é que os responsáveis das empresas receiam ficar sem futuro.
depois há os cruzamentos do passado. quem em luanda não tem um familiar que viveu em portugal? ou quantos portugueses não querem fugir da crise desejando vir para angola? é um casamento, na maior parte dos casos, genuíno.
vitor.rainho@sol.pt