O encanto de Maputo

Ao chegar a Maputo, depois de uma viagem com alguma turbulência, deparei-me com os serviços de fronteiras sem sistema informático, já que o mesmo tinha ido abaixo com a tempestade.

simpáticos, os funcionários explicaram-nos que teríamos de voltar no dia seguinte a buscar o passaporte, dando-nos um documento provisório para podermos passear tranquilamente. quando na manhã de sábado cheguei ao aeroporto, que tem muitos poucos voos nesse dia, fui recebido cordialmente – depois de pagar o visto, devolveram-me o passaporte. retenho a simpatia e boa disposição dos funcionários. no táxi de regresso ao hotel, questionam-me se gosto do país, ao que respondo afirmativamente. «quem sabe se um dia não quererá vir viver para cá», remata o condutor. sportinguista confesso, manuel explica-me que trabalha muitas horas seguidas e que, por esse motivo, tem pouco tempo para ver o seu real madrid. na viagem que tinha feito no sentido inverso, o taxista, mais antigo, levava um cachecol do benfica no tabliê. fez-me algumas perguntas e perguntou-me se não ia conhecer o país. a certa altura, passámos por uma família de muçulmanos em que as mulheres iam de skaf, só com a cara destapada. «aqui convivemos todos muito bem. 75% da população é católica e não há confusões com quem é diferente», acrescenta. ao que me informei, católicos serão 45%, mas a filosofia continua a ser válida.

já com a história do passaporte resolvida, ando pela cidade e cruzo-me com dezenas de portugueses e brasileiros. percebe-se quais são os que estão há mais tempo a viver cá. estão mais à vontade e sorriem.

ao fim do dia, decidimos ir jantar a um clássico. o restaurante estava cheio de portugueses e moçambicanos de diferentes etnias e credos religiosos. hindus, muçulmanos e cristãos, todos à volta do ecrã. o fc porto tinha acabado de ganhar ao olhanense e aguardava-se pelo prato forte: o benfica-braga. com capacidade para cerca de 150 comensais, no interior e na esplanada, o cristal, em maputo, fervilhava. por momentos senti-me em lisboa. quem acompanhou as peripécias do jogo sabe que os minutos finais foram repletos de emoções. no exterior da esplanada amontoavam-se os menos endinheirados que, à semelhança dos clientes, vibravam com as alterações no marcador. uns corriam, outros saltavam, outros gritavam. o benfica acabou por ganhar e nas ruas não faltavam adeptos moçambicanos com a camisola encarnada. um dia antes, nos caminhos-de-ferro, tinha visto mais portugueses do que os que jogaram nas últimas 20 épocas pelo benfica.

moçambique é um país em franco desenvolvimento, com desigualdades, é certo, mas com vontade de ser uma das potências da região. a capital, maputo, é das cidades mais bonitas que conheço. ruas largas enfeitadas pelas acácias transformam-na num autêntico paraíso africano. as diferentes comunidades são bem recebidas, só a dos chineses provoca mais desagrado. espera-se é que esta atitude seja recíproca quando os diferentes povos de língua portuguesa querem visitar portugal. se há coisas que nos unem ao mundo, a língua é uma das mais fortes.

vitor.rainho@sol.pt