as sessões foram animadas por miguel guilherme, cujo talento e experiência ajudaram a criar um clima descontraído na assistência. fui um dos convidados e, confesso-o agora, sempre achei que se tratava de uma iniciativa de alto risco. esperar que cerca de mil pessoas por noite se dispusessem a pagar bilhete para ouvir cinco histórias da boca de cinco criaturas, pareceu-me uma ideia mirífica. mas a verdade é que a sala esteve cheia e a recepção do público foi entusiástica.
foi por serem histórias verdadeiras? não. a veracidade de uma história não acrescenta nada, ou muito pouco, ao prazer do ouvinte. o importante é que ela seja verosímil; ou, dito de outro modo, que ela seja bem contada. e para isso, como se lê na poética de aristóteles, uma história tem que ter ‘princípio, meio e fim’, uma intriga coerente, peripécias aliciantes e um final satisfatório. miguel guilherme, à sua maneira, foi-nos relembrando tudo isso nas apresentações com que ligava os diferentes sketches. e eu dei comigo a pensar por que razão os políticos são cada vez menos credíveis. os políticos ‘vendem-nos’ histórias para comprar os nossos votos e, uma vez no poder, para justificar as suas decisões. o problema é que as histórias que nos contam são cada vez menos credíveis.
só para dar um exemplo, algumas das medidas anunciadas, ou já tomadas, na área da cultura, televisão e afins, não são verosímeis, nem coerentes, nem têm um final satisfatório. são apenas mentiras mal contadas. dizer que os repetidos adiamentos da discussão da lei do cinema não atrasam a sua entrada em vigor em junho, ao mesmo tempo que se justifica a paralisia do cinema até haver uma nova lei (quando há uma lei em vigor) é, ou uma ingenuidade ou um logro. dizer que a tdt foi um sucesso é uma burla: 8% dos portugueses ficaram sem tv e os que tiveram que pagar uma box para receber os mesmos quatro canais que já tinham, foram descaradamente enganados, além dos que foram vítimas do aliciamento da zon e da meo. incluir a anunciada privatização de um canal da rtp, como se diz no memorando do governo para a troika, de 15 de março, no rol das empresas que o governo se comprometeu a alienar – edp, tap, águas de portugal – é uma anedota. se a ideia fosse por diante, as verbas a cobrar por essa alienação, seriam tremoços ao lado dos gigantescos negócios que se vão fazer com a venda daquelas empresas estratégicas.
neste estado de incerteza, a rtp vai sobrevivendo como pode, para prejuízo de todos nós. se querem uma receita para termos de uma vez por todas uma televisão pública credível, independente e prestigiada, a solução é simples: basta que passe a ser dirigida, como se impõe, da gomes da costa, e não da gomes teixeira.
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