Sem limites nas auto-estradas

Apesar de nunca ter feito a cobertura de uma campanha eleitoral, sei que as caravanas partidárias fazem autênticas corridas, a uma velocidade alucinante, para chegarem à hora prevista ao comício da terra seguinte.

alguns colegas, mais dados a seguir à risca as leis do código da estrada, vêem-se atrapalhados para fazerem a cobertura noticiosa da campanha. nessas situações, apesar de ninguém correr o perigo de ser autuado, já que são as próprias forças de segurança que tratam de abrir caminho, alguns vão ficando para trás. digamos que há ordens para acelerar e só não o faz quem acha que não é correcto ou que não se sente seguro.

esquecendo as situações excepcionais, todos os dias nas auto-estradas circulam carros a uma velocidade muito superior ao permitido por lei. uns tantos são, de vez em quando, autuados por carros disfarçados ou por radares escondidos. quando se faz uma viagem sem nenhum carro à vista, torna-se enfadonho circular dentro dos limites permitidos. há até o perigo de se adormecer. vem esta conversa a propósito da tão badalada multa de que foi alvo o motorista que transportava o antigo presidente da república, mário soares – uma figura com centenas de campanhas eleitorais em cima. tirando o facto de ter sido mal-educado com o agente da gnr e com alguns cidadãos mais sensíveis, ao afirmar que o estado pagava a multa, soares estava a fazer uma viagem como muitas outras. o velocímetro do carro marcava quase 200 km por hora? quantas vezes isso não se passou na vida de mário soares e de milhares de outros portugueses?

este episódio caricato podia servir para se discutir verdadeiramente uma lei que não faz qualquer sentido. quando o limite máximo permitido nas auto-estradas foi imposto, os carros tinham a segurança de hoje? paravam em tão poucos metros? a frota automóvel era tão moderna? seria curioso que as entidades que exploram as auto-estradas revelassem a velocidade média a que circulam os automobilistas. não vale a pena estar a citar o caso alemão, onde em algumas vias rápidas não existem limites, mas seria interessante discutir por que razão nalgumas auto-estradas se há-de continuar com os 120 km/h máximos permitidos. nas do alentejo e na do algarve isso justifica-se? na a8 também? que nas com mais movimento não se altere muito, ainda percebo, agora naquelas em que há mais ovelhas a pastar nas imediações do que carros na estrada é estranho.

claro está que estas medidas iriam prejudicar fortemente o orçamento do estado, que deixaria de embolsar uns largos milhares de euros. mas, por outro lado, entraria dinheiro por via dos impostos sobre o combustível… afinal, vale a pena citar os alemães. por que razão não haveremos de fazer como eles?

vitor.rainho@sol.pt