três costureiras ‘lutam’ com uma enorme manta de retalhos dourada. com alguns metros de distância entre elas, sentadas à frente das suas máquinas de costura, cada uma borda meticulosamente o tecido, misturando materiais nobres com outros industriais e conferindo-lhe pormenores e relevos que acentuam o brilho do objecto, assemelhando-se a uma peça feita em ouro.
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apesar de ainda não estar terminada, joana vasconcelos prevê que fique pronta brevemente e já a baptizou de golden valquíria (integrando a série de trabalhos inspirados no artesanato de nisa, suspensos a partir do tecto, com os seus originais e invulgares corpos têxteis). mas para finalizar a obra, a artista plástica precisa de ganhar espaço no enorme armazém, na doca de alcântara norte, em lisboa, que funciona como casa para as suas criações e ateliê desde 2008. trabalham ali mais de 20 pessoas.
dividido por duas salas grandes e outras mais pequenas, a ala da entrada funciona normalmente como espaço de exposição, com joana vasconcelos a exibir a quem a visita as peças que permanecem na sua colecção pessoal. mas a urgência em terminar novas criações obriga a artista a improvisar, transformando por estes dias o espaço numa grande sala de operações.
de volta das costureiras, andam vários homens, atarefados, a trabalhar. enquanto uns desmontam um dos sapatos gigantes feitos com tachos e tampas de inox, outros embalam o coração independente vermelho, obra feita com talheres de plástico. há ainda um empilhador a ‘desfigurar’ enxoval, suspenso num dos cantos do ateliê.
o espaço que as três peças ocupavam vai agora servir para outras criações. até porque não é apenas uma valquíria que vai nascer aqui. são três. já para não falar do enorme helicóptero que ocupa o segundo armazém, ligado à sala da entrada por um corredor onde se empilham têxteis, rendas e cerâmicas.
o destino final das três novas valquírias e do helicóptero é fácil de advinhar: palácio de versalhes, em frança. o convite chegou há um ano, mas com o aproximar da exposição (patente entre 19 de junho e 30 de setembro) os níveis de nervosismo, ao contrário do que seria de esperar, não acusam preocupações. «ainda falta algum trabalho, mas a única solução é fazer. não é stressar», garante a artista. trata-se da primeira mulher a expor em versalhes e isso acarreta, naturalmente, um simbolismo acrescido. a última hóspede feminina no palácio foi maria antonieta, figura emblemática da coroa francesa e cujo fim trágico, a decapitação, se tornou lenda nos livros de história.
dada a importância do acontecimento, o projecto versalhes foi pensado ao pormenor. e joana vasconcelos tem várias surpresas por revelar. uma delas é, exactamente, o helicóptero que repousa no ateliê de alcântara. das oito obras concebidas propositadamente para versalhes, esta é, talvez, a peça-sensação. não só pelo seu volume, mas também por toda a sua exuberância.
o helicóptero, dourado, foi forrado com penas de avestruz pintadas de cor-de-rosa e, ainda por aplicar, pedras preciosas da austríaca swarovski (quase numa associação directa a maria antonieta, a princesa natural da áustria que se tornou a última rainha de frança). por tudo isto, não está autorizada a captação de imagens do objecto. «além de não gostar de mostrar peças incompletas, é uma imposição de versalhes», explica ao sol_a artista, que aceitou todas as imposições francesas porque sabe que expor em versalhes é passaporte certo para outras conquistas.
no currículo, joana vasconcelos já conta com o rótulo da mais aclamada jovem artista portuguesa, com a mostra no museu berardo, há dois anos, a certificar o título. sem rede, uma grande retrospectiva da sua carreira, tornou-se a exposição mais vista de sempre em portugal, com 168 mil visitantes. este fenómeno ampliou o nome de joana vasconcelos no país, mas também lhe deu projecção internacional.
em 2010, depois da conceituada leiloeira britânica christie’s ter vendido marilyn, o par de sapatos de panelas, por meio milhão de euros, joana vasconcelos tornou-se a artista portuguesa mais cara depois da pintora paula rego (a única portuguesa a ultrapassar a fasquia do meio milhão de euros por uma obra).
este prestígio consolidou ainda mais o nome da artista, que expõe actualmente em toda a europa, e cativou a imprensa internacional, ao ponto de o diário francês le figaro ter publicado, há duas semanas, uma reportagem a antecipar a presença de joana vasconcelos em versalhes. por estes dias, em lisboa, outro fotógrafo francês também andou a seguir a artista por causa da exposição de junho.
por cá, o sucesso internacional permitiu fortalecer alianças artísticas com, entre outros, a manufactura de tapeçarias de portalegre, a fundação ricardo espírito santo e o artesanato de nisa. uma comitiva de luxo que vai acompanhar a criatividade de joana vasconcelos até paris e a quem se juntam ainda a fadista mariza e até o chef josé avillez. ao sol, a artista revela o seu ‘plano de batalha’ para conquistar versalhes.
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