o cenário é ainda mais assustador, pois a cada dia que passa há mais famílias em situação desesperada. aqueles que têm emprego percebem que estão condenados a perderem regalias, seja o 13.º ou o 14.º mês de subsídio. a juntar a este horizonte sombrio, constata-se que o governo procura interferir na esfera privada dos cidadãos no que aos costumes diz respeito. a última intenção – será? – fala da proibição de se fumar no carro. se a estupidez pagasse subsídios de férias e de natal, ninguém sentiria no bolso qualquer corte no ordenado. é muito difícil perceber a razão de, em tempo de crise e em que várias frentes de combate estão abertas, o governo meter-se em mais uma guerra. sendo uma decisão que ultrapassa todos os limites do razoável, espera-se que o executivo tenha o bom senso de refrear os seus instintos controleiros da vida alheia.
outra das guerras – além da dos despedidos, que terão menos regalias – diz respeito ao fecho da maternidade alfredo da costa. um verdadeiro símbolo da natalidade portuguesa é enterrado em nome da poupança e da eficácia. quando as sensibilidades andam mais à flor da pele, não se percebe este protagonismo do ministro da saúde. enfim, não faltam motivos para a população em geral estar preocupada e aborrecida.
mas o que me espanta, apesar deste cenário, é que algumas aventesmas defendam que é necessário um ‘novo 25 de abril’. por que carga de água? porque portugal chegou a um ponto miserável das suas contas? mas foram estes governantes os culpados de termos chegado aqui? e foram eles os principais subscritores do memorando da troika que nos controla os custos? num passado recente, com a justiça a tentar denunciar as ‘golpadas’ de alguns governantes, assistimos a uma defesa férrea desses mesmos governantes. agora porque cumprem as imposições da troika e se lançam para fora de pé em duas ou três questões emblemáticas já é preciso pensar num novo 25 de abril? é preciso ter lata.fosse a cor mais rosada e tudo estaria na paz do senhor.
p.s. morreu esta semana um amigo que pensava diferente de mim. que me foi defender no processo face oculta e por quem tinha respeito e amizade. adeus e obrigado miguel portas.
vitor.rainho@sol.pt