o socialista françois hollande permanece o favorito à vitória nas presidenciais gaulesas deste domingo, após uma semana de campanha escaldante, marcada pelo mais duro debate televisivo da história recente francesa.
na quarta-feira, hollande e sarkozy digladiaram-se no pequeno ecrã e era o conservador que tinha a obrigação de ganhar categoricamente o duelo. tal não aconteceu, com o chefe de estado a abandonar apressadamente o estúdio televisivo após o embate e o socialista a demorar-se na conversa com os jornalistas.
durante quase três horas, pontuadas por trocas de insultos e ataques pessoais, os dois candidatos ofereceram visões opostas da frança e da europa. sarkozy reclamou o papel de bombeiro da zona euro, enquanto hollande o acusou de não conseguir impor nenhuma solução à chanceler alemã angela merkel. o socialista defendeu a renegociação do pacto fiscal europeu, a emissão de eurobonds e a aposta no crescimento – ao que o conservador recusou «pôr os franceses e os alemães a pagar as dívidas dos outros».
dentro de portas, hollande prometeu ser um «presidente justo» e taxar as grandes fortunas a 75%. «você quer menos ricos, eu quero menos pobres», respondeu sarkozy. aqui, o presidente foi bombardeado com acusações de favorecimento a milionários franceses, com referências directas às suspeitas de financiamento partidário ilícito por parte da herdeira do império cosmético l’oreal, liliane bettencourt, beneficiária de um duvidoso perdão fiscal.
«mentiroso» e «pequeno caluniador» foram alguns dos epítetos trocados perante cerca de 20 milhões de telespectadores. «você está sempre tão satisfeito consigo próprio! é incapaz de se olhar ao espelho e admitir que falhou! (…) é tudo tão fácil, a culpa é sempre da crise!» – atacou hollande, sobre os números do desemprego e do crescimento económico.
ligações perigosas
«ser presidente da república não é uma função normal. e a situação que hoje vivemos não é uma situação normal», respondeu sarkozy, afirmando que o rival «não está à altura» do cargo.
num piscar de olhos à extrema-direita – em que marine le pen apelou à abstenção dos seus 6,5 milhões de eleitores –, ambos os candidatos admitiram impor limites à imigração, com sarkozy a defender a reposição de controlos fronteiriços. hollande marcou pontos aqui, retratando o presidente como o campeão das portas abertas, mas arrasando-o pelas generalizações anti-muçulmanas em relação aos imigrantes extracomunitários.
antes do debate, a semana revelava-se já negra para sarkozy, com a publicação no site jornalístico mediapart, conotado com os socialistas, de uma suposta carta do falecido líder líbio muammar kadhafi em que o ditador acedia a um pedido de financiamento da campanha eleitoral do conservador francês, em 2007. sarkozy decidiu processar o órgão por denúncia caluniosa, tendo o jornal online decidido o mesmo em relação ao presidente.
acompanhada dentro e fora de fronteiras pelas implicações que poderá ter na resposta à crise do euro, as presidenciais francesas de domingo são antecedidas por um esforço final e violento dos dois campos em confronto. no entanto, os analistas convergem ao declarar altamente improvável uma reviravolta nas intenções de voto.