Pingo Doce à noite

A estratégia funcionou em pleno, apesar de a Polícia ter sido chamada a quase todos os supermercados que seguiram o plano à risca.

A decisão de oferecer descontos de 50% a partir de compras superiores a 100 euros provocou o caos nas lojas Pingo Doce. Os responsáveis da marca devem ter pensado na viabilidade do projecto, pois caso contrário não teriam posto em prática a medida. Ao ver as imagens, comparei a acção com as festas de bar aberto, onde os balcões são assaltados por mentes sequiosas que chegam a levar dois e três copos de cada vez. Mas se nos supermercados as pessoas não estavam ébrias, pelo menos acredita-se, imagine-se o que não se passa nas tais festas em que se pode beber o que se quiser. A Polícia só não é chamada mais vezes porque os seguranças vão resolvendo os problemas com as suas próprias mãos e com as suas regras.

A crise tem obrigado os empresários dos diferentes ramos a inventarem soluções para aumentarem o consumo dos clientes. A mais arrojada na noite foi a de uma discoteca, Loft, que decidiu cobrar um valor mínimo à porta, tendo os clientes a possibilidade de levarem as bebidas para o interior. A casa oferecia copos e gelo. Nunca fui a nenhuma dessas sessões, mas contam-me que a casa apresentava níveis impressionantes de clientes. Consta também que não houve mais problemas do que é habitual. Afinal, tratou-se de uma deslocalização do famoso botellon das ruas para dentro de casa.

Como é que a discoteca ganhava dinheiro com tal operação? Se cada cliente deixava cinco ou dez euros à porta, é só multiplicar, como diria um conhecido ex-primeiro-ministro. É óbvio que o futuro do negócio da noite não passará por aí, mas não deixa de ser curiosa a estratégia. No Bairro Alto ou no Cais do Sodré muitos dos que enchem as ruas seguem essa estratégia. Compram as bebidas e os copos de plástico num supermercado e depois vão enchendo a alma com o líquido que vai saindo das garrafas. Quando a vida lhes corre melhor, preferem entrar e pagar muito mais. l

vitor.rainho@sol.pt