Alarvidades

Durante as semanas académicas acontece o mesmo de sempre: bebedeiras de caixão à cova e alguns arrufos entre amigos ou conhecidos.

O cenário não é agradável para quem está de fora, mas os jovens universitários seguem apenas a tradição e as formas de festejo da idade. Que é uma maneira parva de se festejar, dirão alguns. Mas será? Se olharmos para o actual quadro de dirigentes políticos constatamos facilmente que muitos já estiveram no lado radicalmente oposto da barricada. Que foi na juventude, dirão alguns. Tudo para justificar as acções que se fizeram no passado. Na verdade, a tenra idade serve precisamente para se cometerem excessos que se devem evitar no futuro. Ao ouvir um amigo que anda nessas andanças festivas das tunas académicas, sou sempre confrontado com a minha incapacidade para entender os trajes que usam ou o facto de se embebedarem em carneirada. Mas o que nos divide mais é precisamente a história das praxes, algo que não consigo, de todo, entender. O que levará alguém a fazer aos outros aquilo que não gostou que lhe tivessem feito? O que levará jovens a ‘obrigarem’ os colegas a beberem até à exaustão só porque no passado lhes fizeram o mesmo? É a tradição, dirão alguns.

Como sempre achei uma parvoíce completa as tradições de carneiradas, não pude deixar de sentir pena, há uns anos, quando assisti em Hong Kong a uma despedida de solteiro. O desgraçado do noivo foi amarrado a uma cadeira de barbeiro enquanto alguns amigos lhe abriram a boca, ao mesmo tempo que outros lhe iam despejando vodka pura pela garganta abaixo. Lembro-me que o infeliz noivo saiu praticamente em coma de tal brincadeira. À sua volta, os convivas davam urros de alegria.

Na actualidade, constato com alguma regularidade que há quem não resista a fazer brindes de unhas quando sabe que vai ficar maldisposto, pois já ingeriu o suficiente para não fazer misturas. Mas são poucos, muito poucos, os que dizem claramente que não querem entrar na brincadeira. O mais engraçado é que há quem já tenha idade para ter juízo, mas não consegue dizer não. Depois ficam doentes…