Pingo Doce: uma jogada de mestre

Quem conhece um pouco a realidade económica do país, sabe que as grandes superfícies, vulgo hipermercados, fazem com alguma regularidade promoções.

por essa razão, muitas vezes, os tais supermercados são ‘assaltados’ da parte da manhã por uma população mais envelhecida que vai à procura das outrora chamadas ‘pechinchas’. o peixe ou os produtos frescos são o alvo das donas de casa. de quem tem de fazer almoço para a família. nunca ninguém se escandalizou com as discussões que se desenrolam à volta da banca do peixe, por uma razão muito simples: é que desconhecem tais práticas. numa sociedade onde a economia não deve ser estatizada, acontecem destes fenómenos.

vem esta conversa a propósito dos vários histerismos criados pela acção do pingo doce no passado dia 1 de maio. em primeiro lugar, pelos consumidores, que vão desde a forma dos particulares aos proprietários de restaurantes e pequenas mercearias. estes, ao que se diz, foram dos maiores clientes, tendo inclusivamente levado os seus funcionários para ajudarem à festa. houve confusões próprias de grandes ajuntamentos. mas não consigo encontrar uma única razão para dizer que é o retrato de um triste país… todos os anos, é chique ir aos saldos do harrod’s, em londres, ou é in ir em cuecas comprar, em madrid, lingerie nas lojas que fazem promoção de tais produtos e afins a quem se apresenta quase em pelota.

outro dos histerismos criados foi dado pela ala mais ortodoxa da esquerda. que é uma provocação ter escolhido o dia do trabalhador para levar avante tal iniciativa. como? mas agora passou a ser obrigatório ir às manifestações do 1 de maio? os trabalhadores não podem fazer o que muito bem lhes apetece nesse dia? o país fecha para obras nessa data? os hospitais, transportes públicos, polícias, jornalistas, actores, etc., não trabalham nessa data? por outro lado, que melhor forma haverá para defender os trabalhadores do que arranjar-lhes trabalho? se aqueles que tradicionalmente podem gozar o dito feriado querem ir às manifestações, tanto melhor. vivemos, apesar de tudo, em democracia e cada um deve fazer o que bem entende.

mas da mesma forma que a igreja pretende, erradamente, que todo o comércio esteja fechado ao domingo para que os crentes possam ir à missa, as centrais sindicais não devem ter o mesmo discurso.

p.s. já agora, quantos produtos nacionais foram vendidos nessa acção? milhares, seguramente.