avisa algumas vezes que, tal como na bíblia, nada do que se lê numa entrevista sua deve ser levado à letra. a afirmação é fácil de acreditar, uma vez que as contradições no discurso de jack white são imensas, mas traz com ela resquícios do passado. décimo filho de uma família de classe média/baixa cristã de detroit, o músico habituou-se cedo a ir à igreja, foi acólito e chegou a ponderar tornar-se padre.
as razões da desistência (bem como as dúvidas em relação à religião) nunca as explicou, mas contou ao guardian que, na altura, adorava a ideia de viver com «uma estrutura muito rígida [depois de desistir do seminário, pensou alistar-se no exército]. parecia uma coisa segura para mim».
acabou por nunca perseguir essa segurança e, aos 15 anos, perdeu as ambições escolares. tornou-se aprendiz de estofador na oficina do pai de um amigo, que tocava bateria e música punk. foi com ele que aprendeu a tocar guitarra e criou a sua primeira banda, the upholsterers (os estofadores). por brincadeira, gravaram 100 cd com apenas uma canção e esconderam as cópias, individualmente, nas cadeiras e sofás que restauravam. «é incrível. passado este tempo todo, ainda não foi nada encontrado», disse, divertido, ao diário britânico.
depois desta brincadeira, o músico passou a alinhar por várias bandas locais de detroit, às vezes como baterista, outras como guitarrista. mas em 1996, quando conheceu meg white no bar onde ela trabalhava, jack adoptou o seu apelido (o gillis, de baptismo, desapareceu) e criou os white stripes. meg não tinha experiência em música e nunca tinha tido aulas de bateria, mas o seu jeito infantil e imperfeito de tocar convenceu o músico.
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a banda ‘tricolor’ (só usavam roupa branca, vermelha ou preta) só editou em 1999, mas o registo homónimo passou algo despercebido. seguiram-se de stijl (2000) e white blood cells (2001), que fizeram a banda ganhar o seu espaço na cena musical norte-americana, ao ponto de os críticos serem unânimes ao afirmar que jack e meg estava a ressuscitar o rock, adormecido desde a década de 80. algo que jack ainda hoje estranha.
«antes dos white stripes tocava em bandas rock e punk, mas o que adorava ouvir era blues. por isso, para mim a música dos white stripes sempre foi blues moderno», comentou com a revista uncut. mas jack white é o único a pensar assim. ‘seven nation army’ saiu em 2003, parte do alinhamento de elephant (que só nos eua vendeu quatro milhões de cópias), e tornou-se o hino do reaparecimento do rock.
com esta popularidade, o apetite pela vida pessoal de jack e meg começou. eles garantiam ser irmãos, mas a imprensa não se cansava de escrever que eram marido e mulher. até hoje, os músicos nunca confirmaram a natureza da sua relação. «se duas pessoas são namorados e trabalham juntos, começa-se logo a vender o casal e não o seu trabalho. eu nunca exploraria a minha relação para me vender», frisou recentemente jack à uncut.
a única relação amorosa que assumiu foi com a top model e cantora karen elson, com quem esteve casado seis anos e tem dois filhos. antes disso, namorou com a actriz renée zellweger, que conheceu durante as filmagens de cold mountain (onde teve uma pequena participação), e o facto de gostar de trabalhar com mulheres bonitas – como kate moss na versão de ‘i just don’t know what to do with myself’, e alicia keys em ‘another way to die’, tema original de 007 quantum of solace – já lhe valeram muitos rumores. «se me tivessem visto a sair de um hotel com a alicia keys estava feito», disse, irónico, à revista britânica.
se não fosse esta postura em relação à sua vida pessoal, seria fácil catalogar blunderbuss, o tão aguardado primeiro álbum a solo, como uma catarse do seu último ano. em 2011, além do fim oficial dos white stripes (jack e meg já não trabalhavam regularmente desde 2007, quando a baterista se afastou dos palcos por causa de ataques de ansiedade), o músico também se divorciou de karen elson. e em blunderbuss há, de facto, muitas canções sobre relações amorosas falhadas. mas, como em toda a discografia dos white stripes, são os temas ‘a rasgar’, mais primitivos, com a guitarra irrequieta de jack white a dominar a música, que mostram a verdadeira essência deste bom rebelde. sim, porque apesar de toda a escuridão que possa haver em jack, o apelido white está cá para assegurar que o universo musical que criou para si tem sempre muita pureza.