Polónia e Ucrânia sob desconfiança

Com o Euro-2012 à porta, os países anfitriões ainda são olhados de lado. Não faltam focos de instabilidade que ameaçam o sucesso da fase final: da segurança ao surto de sarampo.

a 12 dias do pontapé de saída do euro-2012, há ainda arestas por limar que vão muito para além do futebol. da luta política ao racismo, do receio de atentados ao turismo sexual, dos preços dos hotéis ao surto de sarampo, não faltam motivos de desconfiança sobre a organização conjunta da polónia e ucrânia. já garantidas estão as previsões de um porco vidente – em substituição do polvo paul que adivinhou os resultados do último mundial.

premiar e incentivar ainda mais a aproximação dos dois países ao ocidente era uma das intenções da uefa, mas a ucrânia vive hoje uma forte instabilidade política após a prisão da sua antiga líder, iulia timochenko, o que afastou o país da união europeia. e em vez de aproveitar o euro-2012 como «uma oportunidade de promover o país», oleh rybachuk, antigo colaborador de timochenko, teme que os jornalistas acabem por «escrever sobre um milhão de problemas».

além da ameaça de boicote à competição por parte da alemã angela merkel ou da comissão europeia, as vozes de protesto estenderam-se até onde menos seria de esperar: roslaw kaczynski, antigo primeiro-ministro e agora líder da oposição na polónia, aliou-se aos apelos internacionais contra os jogos na ucrânia.

os quatro atentados do mês passado, na cidade natal de timochenko, provocaram 27 feridos e só vieram adensar as preocupações com a insegurança, apesar de o governo ucraniano já ter garantido à uefa que tem a situação controlada.

outro receio são os ataques racistas. o seleccionador inglês, roy hodgson, pôs o dedo na ferida: «o racismo e a violência na ucrânia são preocupações para os nossos adeptos, que se arriscam a ser espancados».

a família de theo walcott, jogador da selecção inglesa nascido na jamaica, não o vai acompanhar «por causa do medo de confrontos racistas», adiantou o irmão ashley, antes de questionar: «porquê realizar uma competição desta magnitude num sítio incapaz de manter os estrangeiros em segurança?».

na polónia também já houve problemas. em 2001, os adeptos arremessaram bananas para o relvado contra a naturalização do nigeriano olisadebe.

prognósticos diários de um porco

theo van seggelen, da federação internacional dos futebolistas profissionais, critica a este propósito a localização do estádio de kharkiv, «no meio do nada», e por isso mais difícil de policiar nas suas zonas exteriores. portugal também ali joga, no dia 17 de junho, frente à holanda.

não são apenas problemas políticos e de segurança que atrapalham a organização. kiev luta também contra a reputação de destino de turismo sexual: nos aeroportos e hotéis, há folhetos promocionais a serem distribuídos a turistas com oferta de prostitutas.

em protesto contra o aumento do sexo por dinheiro, uma mulher seminua tentou roubar o troféu do euro-2012, na semana passada, quando este se encontrava em exposição na praça da independência em kiev.

o alojamento é outra dor de cabeça. o abusos nos preços já levaram michel platini, presidente da uefa, a apelidar os responsáveis hoteleiros ucranianos de «bandidos e vigaristas». mas a polónia não fica atrás e a diária num quarto duplo perto do estádio de varsóvia pode chegar aos 2.500 euros.

os problemas de saúde também não passam ao lado da competição. o surto de sarampo que se verifica na região levou portugal a promover vacinação gratuita aos adeptos que se desloquem ao europeu para apoiar a selecção.

menos preocupante é a ausência do polvo paul, que adivinhou os resultados de sete jogos da selecção alemã no mundial-2010. para o seu lugar foi ‘contratado’ um porco, que segundo a câmara municipal de kiev fará «todos os dias às 16 horas os prognósticos dos jogos».

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