Beach House: Sem prego no caixão

A primeira vez que Victoria Legrand fez música entrou numa espécie de estado de transe. Encontrada a melodia certa no seu teclado, sentiu o clímax da descoberta e, depois, a paz que só os acontecimentos genuínos têm.

«fazer música é um amor profundo, obsessivo e compulsivo. nunca mais consegues parar. torna-se parte da nossa vida e atinge-se um estado de pura inocência», garante a vocalista dos beach house.

em entrevista por telefone com o sol, percebe-se que victoria pode estar horas a falar de um assunto. «por muitas canções que se façam, estamos sempre a tentar voltar à descoberta inicial, a esse espaço invisível, de inocência completa, que é a criação musical. não há pressões, nem distracções. somos só nós, aquele sentimento e um pouco de música», assegura.

tal como uma relação amorosa, uma canção «também nos deixa hipnotizados» durante meses. depois, quando os níveis de euforia voltam ao equilíbrio, «começa o trabalho árduo, a necessidade de mudar coisas para melhorar».

por isso, bloom, o quarto registo da banda, surge dessa vontade de aperfeiçoamento. mesmo tratando-se do sucessor de teen dream, o tão aplaudido álbum da dupla e que elevou victoria legrand e alex scally a estrelas da dream pop. «adorámos aquelas canções durante um tempo, mas nunca quisemos ficar presos a elas. nunca achámos que era o nosso melhor disco e que não precisávamos de fazer mais nada. por isso, seguimos em frente e gravámos bloom», frisa a também teclista.

aparentemente menos experimental que os álbuns anteriores, bloom mantém todos os ingredientes pelos quais os beach house sempre foram elogiados: a voz misteriosa da vocalista, as melodias luminosas e naïf, a incontornável melancolia. victoria concorda com a aposta contínua nas características que definem os beach house, mas não confirma a menor ambição de bloom. «estas canções são incrivelmente imaginativas e não têm uma estrutura narrativa tradicional, tipo verso-refrão-verso», considera, afirmando, porém, que dispensa a auto-análise. «a vida já é muito estranha para nos olharmos sempre ao espelho. analisar o próprio trabalho é pôr o prego no caixão», considera.

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alexandra.ho@sol.pt