passos coelho julga-se destinado a uma missão patriótica: livrar-nos do ‘peso do estado’, entregando aos privados (geralmente estrangeiros), para nosso bem, todos os sectores estratégicos que nos restam (transportes, águas, electricidade, televisão, etc), deixando-nos como consolação o hino e a bandeira para comemorarmos as derrotas da selecção. como se as trapalhadas do miguel relvas não bastassem (ninguém sabe o que o maap quer nem porquê, mas uma coisa é certa: ninguém ganharia com a privatização de um canal da rtp, nem a própria rtp, nem os canais privados, nem a rádio, nem a imprensa, nem os portugueses, nem o estado), passos coelho vem reenquadrar a ameaça, levando mais longe o plano da troika, a agenda da ue e de todas as democracias do planeta, usando um argumento abusivo e exclusivamente ideológico: «o estado não deve ter meios de comunicação social».
ora, o equívoco de passos coelho é duplo: primeiro porque a televisão não é um ‘meio de comunicação social’ como outro qualquer (e por isso sempre defendi que devia ter o seu próprio regulador); além de ter outras componentes de entretenimento e formação, ao contrário dos jornais, a ‘tv em aberto’ é paga pelos contribuintes ou pela publicidade. depois, porque se o primeiro ministro entende que o estado não deve ter canais de tv nem de rádio, devia propor-se privatizar, não um, mas todos os 15 canais que constituem o universo rtp.
como se não bastasse este simplismo ideológico e este amadorismo político, o governo acaba de aprovar uma lei de cinema que continua no segredo dos deuses e que nem sequer foi posta previamente à discussão na secção própria do conselho nacional de cultura (cnc). ora, se o cnc, cujos membros acabam de ser nomeados pelo sec, não serve para discutir a lei que vai reger o sector, serve para quê? governar um país não se compadece com tanto amadorismo.
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