Estudantes universitários pedem esmola em Lisboa

«Há três anos eu podia vir à Baixa comprar roupa», recorda Rui Santos, de 24 anos, aluno que está a um ano de terminar o curso de arquitectura. Agora está sentado, de traje académico vestido, ao lado do amigo Rogério, de 38 anos, no Chiado, em Lisboa, a pedir esmola para pagar as propinas.

o pai de rui é carpinteiro e ganhava 1500 euros em itália, agora ganha 500 em frança. a mãe está desempregada há três anos e já não recebe subsídio. rui explica ao sol o que o levou a pedir ajuda na rua: «estava a estudar arquitectura em évora mas há três anos tive de voltar porque não tinha dinheiro para pagar as propinas».

rui, que vem de almeirim, conta que no ano passado pediu transferência para lisboa na esperança que a vida melhorasse. «mas não tenho dinheiro para os transportes e já devo um mês aqui também. neste momento preciso de dinheiro para pagar o que está em atraso». recorrer a uma bolsa de estudos também não é solução para o jovem: «tive uma bolsa de 90 euro e isso nem paga as propinas. e no último ano só recebi a bolsa em maio».

já rogério rosa, de 38 anos e da mesma cidade que rui, acabou o curso de marketing há quatro e está agora a espera de uma oportunidade. o que pede na rua não é esmola, mas um emprego. por isso, tem um balde cheio de currículos para quem lhe quiser dar uma oportunidade. desde que acabou o curso trabalhou dois anos a recibos verdes e agora está há dois anos sem trabalho. tomou a decisão de vir para a rua porque envia currículos «para todo o lado, até para supermercados» mas não obtém nem um contacto para uma entrevista. «nem um telefonema, nada!».

rogério explica que, ao contrário de rui, não está aqui para conseguir pagar os estudos mas para «trocar um currículo por uma oportunidade».

«andamos à procura de trabalho na nossa zona nem que seja a apanhar morangos ou tomates mas nem aí conseguimos». e conta que «as pessoas dão trabalho à família ou a emigrantes de leste que recebem 10 euros por dia e esse dinheiro não dá para ajudar».

as reacções que têm colhido na rua não têm sido as desejadas pelos jovens. muitas olham, poucas ajudam e há até as que já gozaram com a situação.

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