Luís Montenegro: ‘Acredito que o PS não chumbará próximo Orçamento’

Luís Montenegro, líder parlamentar do PSD, diz que o PS_se preocupa demais com cálculos internos, mas ainda acredita na vontade de Seguro. Quanto ao Governo, salienta, faz bem o que pode – o resto depende de fora.

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numa altura em que a espanha se viu obrigada a pedir ajuda externa e a situação da grécia se agrava, o presidente da república pede uma atitude patriótica a todas as forças políticas. o que espera dos partidos, nomeadamente do ps?
o país vive uma situação de crise indesmentível e uma recuperação económica muito exigente, com dificuldades acrescidas que advêm da situação externa. o caso da grécia é o mais paradigmático: estamos na expectativa de ver o resultado das eleições legislativas e a possível resolução da instabilidade política que tem marcado o país. por outro lado, as dificuldades que a espanha e a itália têm vivido também nos influenciam. nós fazemos aquilo que nos compete e que está ao nosso alcance para podermos estar mais fortalecidos e encarar o embate dessas dificuldades, que não controlamos.

portugal deve dar garantias adicionais de estabilidade política perante a troika? chamar o ps para o governo, por exemplo, ou fazer um acordo de incidência parlamentar?
temos um nível de convergência muito assinalável que resulta de o psd, o ps e o cds terem sido subscritores do mesmo acordo celebrado com a troika e estarem vinculados a esse memorando. cabe a todos fazerem um esforço para manter esse nível de entendimento e convergência nacional – que é absolutamente fundamental e obrigatório para projectar o país para décadas de crescimento sustentado da economia. temos ainda uma maioria parlamentar estável e uma coligação que funciona muito bem. não vejo necessidade de o ps engrossar essa coligação de governo. a alternativa política virá sempre do ps. mas é importante que dentro da confrontação democrática haja, ainda assim, um âmbito de convergência nas reformas mais importantes e mais duradouras. para além do memorando de entendimento, espero que matérias-chave, como a justiça, os sistemas públicos ou as leis laborais, possam ter a adesão de quem terá responsabilidades políticas.

tem sido difícil obter o apoio do ps.
tem sido difícil porque temos tido um ps algo ziguezagueante: umas vezes muito comprometido com o memorando e outras vezes mais conduzido para consumo interno. o mesmo é dizer que tenta níveis de conflitualidade com o governo para agradar às hostes mais acirradas da militância socialista – para que possam sentir o ps como um partido de oposição que enfrenta o governo. só vamos ter eleições legislativas em 2015, por isso, é muito cedo para que os projectos políticos estejam num nível de confrontação pré-eleitoral. às vezes o ps comporta-se como se tivéssemos eleições amanhã. e essa não é a atitude mais adequada ao momento que vivemos.

o presidente pediu actos concretos.
houve um recente acordo quanto ao projecto de resolução do ps_para uma adenda europeia, que enquadra a posição do governo português nas discussões em cima da mesa no plano europeu. na questão europeia , não temos tido uma identificação total de posições, mas tem havido grande preocupação para um consenso.

em que matérias da agenda parlamentar considera que é prioritário um acordo com o ps?
há alguns processos legislativos muito relevantes, desde toda a reforma do sector da administração local, uma nova lei eleitoral, um conjunto de iniciativas da justiça, da área penal e processual penal (ver página 22), onde creio ser muito importante que possa haver contribuição dos partidos políticos.

personalidades como francisco assis ou o vice-presidente da bancada, josé junqueiro, já avisaram que o ps pode votar contra o próximo orçamento do estado (oe). como encara essa possibilidade?
reconheço que a postura do líder do ps é bem mais adequada com as circunstâncias em que estamos. antónio josé seguro já disse que só vai pronunciar-se depois de ver o oe. é notável que um dirigente partidário, ainda mais numa situação difícil em que o país se encontra, diga que o ps deve votar contra o oe sem olhar ao mérito da proposta. é pôr o interesse partidário acima do interesse do país. são posições absolutamente irresponsáveis. acredito que esse não será o sentir da direcção do ps. espero que haja comprometimento do ps porque estamos ainda no âmbito do programa de assistência financeira. e o país precisa de um ps forte. uma oposição forte não significa dizer ‘não’ a todos. isso dá alguns títulos na comunicação social e alguma popularidade mais imediata e interna. mas uma oposição forte é aquela que tem capacidade para também elogiar ou, pelo menos, contribuir para a viabilização de propostas do governo. isso mostra que a força das suas convicções não se deixa minar nem prejudicar por interesses mais partidários, que são interesses menores.

várias personalidades do psd têm vindo a pedir, nas últimas semanas, o prolongamento da ajuda da troika a portugal. não concorda com essa visão?
não conheço nenhuma voz no psd que afirme categoricamente que o país precisa hoje de mais tempo ou mais dinheiro. o que várias pessoas dizem é que, porventura, se factores externos ao cumprimento do nosso programa influenciarem de tal maneira a situação que tornem inviável a prossecução das metas e dos resultados, devemos ter uma oportunidade para prosseguir o nosso reajustamento. isso é a política que temos defendido. e isso não nos deve afastar daquilo que é mais importante: só há uma forma de proteger o nosso futuro, se eventualmente viermos a precisar de mais ajuda, que é cumprir o memorando que acordámos com a troika.

mas concorda com a visão de manuela ferreira leite e rui rio, que pedem uma aplicação mais suave da austeridade?
concordo com passos coelho, que desde sempre mobilizou o país para cumprirmos o nosso programa e fazermos a parte que nos compete. isso quer dizer que, no caso de a situação se tornar descontrolada – não por um nosso eventual fracasso, mas porque a situação à nossa volta se complicou –, nós poderemos continuar a ter ajuda. é isso que consta das conclusões das várias reuniões do conselho europeu desde julho do ano passado.

acha que portugal saiu prejudicado em relação às condições obtidas por espanha no financiamento da sua banca?
nós já tivemos um abaixamento das taxas de juro! se se vier a verificar que há condições mais vantajosas no apoio ao sistema bancário espanhol, teremos todas as condições para reclamar um tratamento igual, como é lógico. mas alguém tem informação de que as condições são mais favoráveis do que aquelas que temos hoje?

helena.pereira@sol.pt