David, sangue de Carreira

Filho e irmão de cantores, David Carreira resistiu à música até se estrear, em 2011, e logo com um disco de platina. Ex-futebolista do Sporting e também modelo, prepara agora o segundo álbum enquanto grava a primeira novela

os recortes de imprensa não deixam margem para dúvidas: «filho do meio de tony carreira tem o sonho de ser futebolista profissional»/«tony carreira apoia o filho num desfile de moda em aveiro»/«filho de tony carreira seleccionado para a série morangos com açúcar». as primeiras linhas de popularidade de david carreira surgem mediaticamente encostadas à sombra dos sucessos discográficos do pai, tony carreira.

«nada disso me incomoda e até acho natural que puxem pelo nosso apelido», desembaraça o mais multifacetado do clã, sem contudo afrouxar nas distâncias. «o meu percurso está a ser muito diferente. ao contrário do meu pai e do meu irmão [mickael] não comecei na música».

nascido há 20 anos em frança, onde os pais eram imigrantes, david desmarcou-se cedo dos palcos de vocação familiar: aos 10 anos iniciou-se nas camadas jovens do sporting e só abandonou os relvados arrastado por uma carga de lesões. «ia para o meu primeiro ano como sénior mas já tinha um longo historial de problemas físicos. percebi que não dava para continuar a competir ao mais alto nível», recorda ao sol o antigo defesa, entretanto reinventado na profissão de actor.

20 mil discos vendidos no dia da estreia

primeiro na pele de lourenço, personagem central da série morangos com açúcar, e agora na novela louco amor, onde também interpreta um dos papéis principais, a trajectória de david parece destinada a protagonismos. tanto no pequeno ecrã, território já demarcado por um contrato de exclusividade com a tvi, como na música, via explorada em jeito de fuga à rotina de filmagens.

«só queria criar umas musiquinhas para mim. estava numa de curtir um bocado e nunca me passou pela cabeça fazer um disco. mas lá acabaram por me convencer».

incentivado por um amigo com ouvido para o negócio, david não só gravou o álbum n.1 (número 1) – produzido pela dupla francesa tefa e masta – como conseguiu vender 20 mil cópias logo no dia de lançamento. tudo isto em ritmo de constante superação: «não sabia cantar nem dançar», repete.

agora, com pouco mais de meio ano de música no currículo, o artista soma já um disco de platina e, entre pausas de gravações televisivas, avança nas afinações do próximo álbum, preparado sob um coro de pressões.

«o facto de ter pessoas à espera de resultados – e de saber que algumas até estão na expectativa de que a coisa não vai correr bem – dá-me ainda mais vontade de trabalhar e de provar que consigo. sou muito obstinado e gosto de ter os meus objectivos pré-definidos».

meta a meta, de desafio em experiência, david deixou para trás não apenas o sonho do futebol, mas também os planos universitários, ainda assim adiados só depois de garantido o diploma secundário.

«para mim era importante acabar o 12.º ano. por isso recusei o primeiro convite para entrar nos morangos [com açúcar]».

a oportunidade – nascida de uma inscrição numa agência de modelos – apanhou o então jogador ainda no 9.º ano e, no entanto, já com os horários estrangulados entre as exigências do liceu francês e os compromissos desportivos. «era a série ou a escola».

moda de passagem

foi à escola até ao final do 12.º ano, depois os morangos com açúcar levaram a melhor sobre o curso de economia.

«não cheguei a pôr os pés nas aulas», confessa o ex-caloiro da universidade nova de lisboa, à época da colocação no ensino superior igualmente entretido no circuito da moda.

«divertia-me a tirar umas fotos de vez em quando, mas sabia que era só uma fase. nunca quis ser profissional», garante o modelo ocasional, noutros tempos alinhado sobre as badaladas passerelles do modalisboa e do portugal fashion.

do passado no futebol e na moda para o futuro na música e na representação, hoje o percurso de david carreira já se lê para além da história paterna. «tony carreira quer seguir as pisadas do filho e dar voz a filme de animação», conta-se por linhas noticiosas, desta vez pontuadas pela imitação do pai. à imagem do filho.

paula.cardoso@sol.pt