o rumor circulava horas após a agência de notação financeira fitch ter colocado o rating cipriota ‘no lixo’, revendo-o de bb+ para bbb- com outlook negativo. a confirmação oficial chegou ao final da tarde. o governo cipriota solicitou oficialmente o acesso ao fundo europeu de estabilização financeira para «conter os riscos para a economia cipriota, sobretudo os provocados pelo efeito de contágio ao seu sector financeiro, devido à grande exposição à economia grega», segundo é expresso num comunicado do executivo de nicósia.
a ilha mediterrânica junta-se assim a portugal, irlanda, grécia e espanha no clube dos países intervencionados. itália, bélgica, frança e eslovénia são outros membros da zona euro apontados como as possíveis próximas vítimas da crise das dívidas soberanas.
o cenário de um pedido de resgate em nicósia já tinha sido admitido este mês, quando o governador do banco central do chipre, panicos demetriades, alertou que o país estava a ter dificuldades em arranjar 1,8 mil milhões de euros para injectar num dos maiores bancos privados do país até 30 de junho, data em que poderia entrar em incumprimento e arrastar consigo toda a banca cipriota.
«quanto mais nos aproximamos da data limite, menos improvável é pedirmos um resgate financeiro», tinha declarado o responsável ao financial times. também o governo de nicósia tinha admitido a possibilidade.
as relações próximas entre cipriotas e russos tinham alimentado a expectativa de que o país poderia contrair um empréstimo junto de moscovo, mas tal cenário não se concretizou.
a recapitalização da banca cipriota poderá exigir 5 mil milhões de euros, sendo que esse poderá ser o valor do resgate a anunciar.
a crise no banco popular do chipre (ex-banco marfin, segundo maior do país) é atribuída à forte exposição à grécia. a situação repete-se em todos os sectores da economia da ilha, mas é a banca que motiva maiores preocupações devido ao seu tamanho invulgar – vale o equivalente a 835% do pib cipriota.
depois de anos de boom económico, o chipre entrou em crise em 2009 devido ao contágio grego. a situação agravou-se em 2011 com um evento inesperado: uma violenta explosão numa base militar que destruiu a principal central eléctrica do país e causou prejuízos de mais de 2 mil milhões de euros. o acidente foi causado pelo armazenamento deficiente de armamento iraniano apreendido a um cargueiro, dois anos antes, pela marinha cipriota.
contudo, apesar da crise actual, o chipre mantém boas perspectivas de crescimento a médio e longo prazo devido às recentes descobertas de reservas de petróleo e gás natural no mediterrâneo oriental.
pedro.guerreiro@sol.pt