entre os vários elementos da caem – operadoras de televisão, agências de meios e anunciantes –, há quem não admita meros remendos a um sistema que tem falhas estruturais.
«não serve dizer que vai melhorar, como nos têm dito desde janeiro», comenta uma fonte do sector, explicando que um dos problemas detectados pela auditoria da pricewaterhousecoopers (pwc) é demasiado grave para ser agora corrigido. «há um erro no establishment survey, que é o estudo que serve de base ao sistema». cerca de 30% do painel foi recrutado fora do estudo de base e as variáveis que estavam definidas no caderno de encargos não foram respeitadas.
mas há mais: as dez primeiras páginas do relatório preliminar – encomendado pela caem – elencam problemas na forma como estão a ser medidas as audiências. lares sem televisão paga que registam valores de audiência no cabo, casas onde 100% do consumo televisivo corresponde a videojogos e canais que, de um momento para o outro, deixam de ter qualquer espectador.
falhas como estas estão a fazer com que haja já associados da caem dispostos a uma mudança. «muitos anunciantes e agências de meios começam a ficar preocupados. estamos a falar de uma indústria que mexe milhões», garante fonte do mercado.
rtp rompe e divulga dados
aliás, as divergências também persistem entre os canais. apesar de sic e tvi terem feito um comunicado conjunto, anunciando que não pretendem para já comentar as conclusões da auditoria, isso não significa uma aproximação.
ao que o sol apurou, a media capital ainda não desfez as dúvidas que a levaram a voltar ao sistema de medição da marktest, ignorando os dados oficiais da gfk.
de resto, o comunicado conjunto surgiu como uma reacção ao facto de a rtp ter revelado dados do relatório. no entanto, a estação pública só decidiu avançar depois de uma notícia da briefing. o site escrevia na terça-feira de manhã que «o relatório preliminar da auditoria ao sistema de audimetria da caem não assinala questões que possam pôr em causa o contrato celebrado com a gfk».
a informação era não só contraditória com o conteúdo do documento como quebrava o acordo assumido entre os associados da caem de sigilo sobre o relatório. além disso, a briefing assegurava que o presidente da rtp, guilherme costa, tinha ameaçado «a saída da rtp da auto-regulação se as conclusões da auditoria não sustentassem a tese de que os indicadores das audiências prejudicam a sua empresa». uma frase que gerou mal-estar na estação pública, por não corresponder à realidade. isso mesmo levou a que o assunto fosse comentado internamente, e a direcção de informação decidiu noticiar alguns dados do relatório para repor a verdade.
a mudança na medição das audiências contribuiu para uma queda do share médio dos canais generalistas, tendo o cabo e o conjunto outros sido os únicos a aumentar os valores com a medição da gfk. a rtp1 foi o canal que mais sofreu: entre 1 de março e 19 de junho, caiu mais de 8% em relação aos valores obtidos no ano passado, no mesmo período. a líder tvi passou de 25,8% para 24,3% e a sic, de 23,5% para 21,9%.