antes disso, o músico paulistano de 52 anos já dera o seu contributo para a música brasileira como co-fundador da banda pop titãs, traçando a partir daí um percurso eclético ligado à poesia e ao vídeo.
fusão tornara-se a sua palavra de ordem e não é de estranhar que, mais cedo ou mais tarde, antunes viesse desembocar na world music, levando consigo o guitarrista edgard scandurra (ex-ira!), com quem há vinte anos se vem encontrando em múltiplas parcerias.
nos últimos três, a dupla brasileira fizera-se rodear de violões, guitarras e uma ou outra percussão, mal imaginando que a curto prazo viriam a dialogar com instrumentos como a kora (uma espécie de harpa com 21 cordas feito de cabaça, madeira e couro), o balafon (que deu origem ao xilofone) e o soku (violino de uma corda).
a mistura exótica surgiu quando em 2010, no festival back2black, no rio de janeiro, apostado na junção da música brasileira à africana, os uniu ao maliano toumani diabaté, tocador de kora premiado com dois grammys.
«no pequeno ensaio que tivemos, rolou uma energia muito boa», comentou ao sol o guitarrista scandurra, acrescentando que a imediata afinidade surgida entre a sua guitarra e a kora do mestre maliano terá vindo do elemento blues em comum. «havia abertura para a pop, o rock e o experimentalismo de ambas as partes».
«normalmente toco acompanhado de um baixista, teclista, percussionista e uma grande banda. e de repente vejo-os apenas com uma guitarra eléctrica e outra acústica e perguntei-me: ‘como?’. mas a verdade é que o groove estava lá», contou, por sua vez, diabaté. «naquele momento senti que éramos uma família».
por isso rapidamente acedeu quando os músicos brasileiros o convidaram a colaborar com as composições que já tinham escritas. afinal de contas, «não havia ainda nenhum projecto entre o mali e o brasil» de que tivesse conhecimento e queria conhecer mais do que o samba que «alguns filmes do pelé» lhe haviam mostrado.
a convite de diabaté, antunes, scandurra e o produtor gustavo lenza rumaram a bamako, mali, onde permaneceram duas semanas. «fiquei impressionado com a doçura das pessoas, com a receptividade. assistimos a um concerto do toumani ao vivo, um show dançante meio baile, meio parecido com as festas no brasil», observou antunes, sobre a viagem da qual acabou por resultar também um documentário, de dora jobim, em parceria com a mtv brasileira.
às gravações no estúdio maliano, juntaram-se sidiki diababé, filho de toumani, e alguns elementos da banda do segundo. o projecto ganhou o nome a curva da cintura, tal como o disco com 15 faixas. nele destaca-se a voz grave e compassada de antunes a par das complexas tonalidades debitadas pelo instrumento primordial de toumani. «gosto mesmo da voz do arnaldo. quando ele fala, as pessoas relaxam. fá-lo de forma inteligente e suave, vem bem de dentro, nunca ouvi ninguém assim. não entendo o que ele canta, mas fui voando na música deles», elogiou o músico maliano, cuja lista de colaborações inclui o norte-americano taj mahal e a islandesa björk.
«no brasil as pessoas dizem que esta música é brasileira. no mali, as pessoas dizem que é do meu país. isso significa que está metade por metade. e uma fusão a esse nível é difícil de acontecer», acrescentou o maliano, prometendo a continuação deste «projecto espiritual» no futuro. o primeiro disco é apresentado hoje, 29 de junho, no festival med, em loulé, que termina amanhã.
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aisha.rahim@sol.pt