Suspeitos do SIED espiaram menos

Quando rebentou o escândalo das secretas, a produção de relatórios do ‘departamento A’ do Serviço de Informações Estratégicas de Defesa (SIED) caiu a pique.

de cerca de 1050 relatórios, em junho de 2011, o departamento onde estavam colocadas pessoas de confiança do ex-director silva carvalho passou a fazer apenas 400 em outubro.

recorde-se que a primeira notícia sobre irregularidades no sied foi em julho de 2011, quando o expresso revela que silva carvalho traficou informação privilegiada obtida naquele serviço de informações para a ongoing, antes e depois de o próprio deixar o organismo.

o conselho de fiscalização do sistema de informações da república portuguesa (cf sirp), no relatório sobre 2011 que deu entrada esta semana no parlamento, e a que o sol teve acesso, faz questão de autonomizar o departamento a – o chamado departamento operacional – num gráfico sobre a produção de relatórios internos de notícia, entre os cinco que compõem o sied. é neste departamento que o cf sirp sustenta que foram «detectadas situações que indiciam ofensas à constituição e à lei» e «utilizações indevidas de meios afectos ao sied com quebra de normas internas de segurança», dando assim a entender que a abundante produção de relatórios teria outros propósitos.

«a produtividade do ‘departamento a’ foi afectada nos últimos meses de 2011 pelos acontecimentos que deram origem a uma investigação por parte do cf sirp, e uma inquirição interna», lê-se.

melhor selecção dos espiões, dirigentes ouvidos na ar

o conselho de fiscalização faz várias sugestões para o futuro: «tornar muito exigente» a malha dos critérios de selecção (vettings) dos funcionários e afinar esse controlo ao longo da carreira dos funcionários; criar um «impedimento temporário» na transição dos funcionários dos serviços para o sector privado; introduzir a audição parlamentar prévia dos directores-gerais indigitados e reforçar os meios informáticos dos serviços.

o relatório manifesta ainda «reservas» quanto ao reforço das estruturas comuns aos dois serviços («em especial o de tecnologias de informação e o de segurança»), que, no entender do cf, é «mais coerente com um quadro de fusão dos serviços de informações [sied e sis]» apesar de, no plano político, ter sido afastado. aqui, o cf critica a desconformidade entre a prática e a palavra dos governantes.

helena.pereira@sol.pt