Contra a carneirada,marchar, marchar

Muito se aplaudiu e escreveu sobre a queda de Hosni Mubarak. O mundo ia ficar melhor e os egípcios teriam uma vida mais democrática, onde os direitos seriam respeitados.

houve quem tivesse apelado à calma da euforia ‘comentarista’, mas os que levantavam dúvidas eram praticamente achincalhados na praça pública. nem a violação sistemática de uma repórter da cnn que cobria as manifestações da praça tahrir no cairo arrefeceu os ânimos daquelas que rejubilavam com o fim de uma era.

menos de um ano e meio depois, os adeptos da revolução em curso começaram a falar baixinho e a assobiar para o ar. afinal, os democratas que ganharam as eleições são fundamentalistas e prometem um estado religioso. onde as mulheres perderão, naturalmente, alguns dos poucos direitos que haviam conquistado. onde as burcas poderão aparecer a tapar cabelos e liberdades ganhas com um regime autoritário, mas que funcionava como um equilíbrio da zona. é certo que foram os egípcios a decidir o seu futuro. e só a eles compete designar quem os governará. mas não há dúvidas que países que nunca tiveram uma cultura democrática são terreno fértil para lavrar por fundamentalistas. o ocidente poderá culpar-se por, aparentemente, nunca se ter preocupado em pressionar mubarak a garantir uma vida melhor para os seus cidadãos. as desigualdades eram tantas que milhões viviam em cemitérios, quando o chefe de estado recebia milhões para impedir a chegada ao poder dos fundamentalistas e, dessa forma, tranquilizar os israelitas.

da mesma forma que na política económica europeia é praticamente impossível fazer futurologia, o mesmo se passa naquela zona do globo. se os homens da irmandade muçulmana fizerem um pacto com os iranianos o caldo pode estar entornado. mas isso são outras contas do rosário.

o que acho estranho é a carneirada em que vão tantas pessoas sempre que se discute algum tema. quem não estiver de acordo com aqueles que gritam mais alto, é porque ou são burros ou quase fascistas.mas isto em tudo. alguns leram, certamente, que a torre eiffel, por exemplo, esteve para ser deitada abaixo porque os intelectuais de então, final do século xix, achavam que estragava a vista aos parisienses. numa época de globalização, é bom não cair no primeiro post do twitter ou do facebook, essas novas bíblias dos tempos modernos…

vitor.rainho@sol.pt