tiago patrício, 32 anos, começou a escrevê-lo aos 19, a partir das suas memórias de infância e adolescência passadas naquela região. retomou-o em 2010, reescrevendo-o para o referido concurso, já depois de se formar e de trabalhar como farmacêutico, de começar a escrever poesia e peças de teatro, de integrar por várias vezes o programa jovens criadores, de passar por várias residências artísticas e de criar o blogue cartas de praga. como resultado, surgiu este romance concentrado na velocidade da narração e na intensidade dos retratos e dos gestos das personagens.
é, antes de mais, audaz a opção do autor em evocar a presença do mal no mundo da infância. em trás-os-montes, como em jardim de cimento, de ian mcewan, ou olho de gato, de margaret atwood, a relação privada entre as crianças é um território onde a maldade está presente, mais do que como imitação ou reflexo dos gestos dos adultos, como forma de descoberta, de afirmação ou de aliança. após uma série de pequenas transgressões, teodoro e os seus amigos edgar e óscar cometem um acto de violência atroz sobre outra criança (o romance termina com uma outra morte).
avançamos em retrospectiva até o conhecer e aos seus contornos e conhecermos o universo mental e quotidiano, as dores, as perdas e os sonhos de cada uma destas crianças (também de raquel, irmã de óscar) e o seu lugar naquela aldeia em forma de cruz. trás-os-montes não é uma tragédia moral nem um romance de análise psicológica. é, sobretudo, uma história bem contada e gerida, com uma voz e uma intencionalidade pouco frequentes numa primeira obra.