A Selecção pode, os clubes não

A imprensa espanhola entreteve-se esta semana a debater se a sua Selecção de futebol festejou com dignidade a conquista do título de bicampeã da Europa.

acham, alguns, que exageraram e que deram um mau exemplo ao aparecerem meio embriagados. parece-me que é mesmo problema de rico, de quem ganha várias vezes. os campeões chegaram ao país e tiveram recepções oficiais contínuas, até ao momento em que foram festejar com o povo. é natural que alguns tenham bebido um pouco mais de euforia, mas daí à imprensa dita séria fazer inquéritos online sobre o assunto parece-me um absurdo total.

vem esta conversa a propósito das expectativas criadas à volta do futebol português que se prepara para mais um campeonato nacional. estando o país mergulhado numa crise profunda, os principais clubes parecem viver noutra latitude. segundo os jornais desportivos, andamos a competir com os principais clubes europeus na contratação de vários jogadores. enquanto países como a bélgica ou a holanda – este com muito mais tradição vencedora do que nós, quer a nível de clubes quer de selecção – vendem jogadores a portugal, para respeitar os seus orçamentos, nós continuamos a assobiar para o ar e à espera que a crise não chegue aos relvados. pode ser que esteja enganado e que os clubes portugueses tenham uma solução milagrosa para a falta de verbas do país. mas não deixa de ser estranho que enquanto países com muito melhores condições financeiras jogam na contenção, nós queiramos portarmo-nos como ricos. logo veremos onde vão acabar as equipas portuguesas. mas se nos lembrarmos que ainda há poucos meses havia cabeças brilhantes que queriam aumentar o números de clubes na primeira divisão… se os clubes continuarem assim, mais cedo ou mais tarde levarão com uma troika em cima…

quanto ao europeu que agora acabou, é óbvio que tivemos uma prestação quase brilhante. um país com 10 milhões de habitantes que nos últimos anos tem estado em quase todas as fases finais de europeus e mundiais é obra. ainda por cima, ficando várias vezes entre os quatro melhores.

o futuro de portugal, futebolisticamente falando, passa por continuarmos a formar jovens jogadores que brilharão noutras latitudes, trazendo divisas para o país, além de fazerem brilharetes na selecção. parabéns. l

vitor.rainho@sol.pt