Guerra política paralisa Roménia

Não é só o Egipto que assiste por estes dias a uma luta de poder entre órgãos de soberania. No dia 6, o Parlamento de Bucareste aprovou a destituição do Presidente romeno Traian Basescu (direita), acusado de usurpar competências do recentemente formado Governo de esquerda de Victor Ponta.

o derrube foi antecedido pela substituição dos presidentes das duas câmaras parlamentares por homens próximos de ponta. crinantonescu sobe a líder do senado e chefe de estado interino.

a destituição terá agora de ser confirmada em referendo, no dia 29. é a segunda vez que basescu é levado às urnas. sobreviveu a uma primeira votação em 2007, mas vários anos de austeridade decretada por governos de direita apoiados pelopresidente, que incluíram cortes de salários na ordem dos 20%, desgastaram-no.

basescu é a personagem mais controversa da roménia pós-comunista. combativo e interventivo, sempre recusou assumir o papel de um presidente corta-fitas.

encontra agora a sua némesis emponta. o socialista de 39 anos está apostado em limpar o país da influência do líder conservador. dos tribunais à televisão, passando pelas principais instituições culturais, assiste-se a uma purga de dirigentes. a comissãoeuropeia, o embaixador dos estados unidos embucareste e intelectuais como a nobel da literatura herthamüller alertam para flagrantes violações do princípio de separação de poderes.

ponta é também acusado de violar a constituição ao tomar o lugar de basescu no conselhoeuropeu, e a luta entre os dois assume um carácter pessoal. basescu terá revelado à imprensa europeia que o primeiro-ministro plagiou uma tese de doutoramento. ponta, no seu registo autoritário, dissolveu uma comissão de inquérito que confirmou a acusação.

na alemanha, pondera-se a suspensão do direito de voto romeno em bruxelas, como aconteceu com a áustria nos tempos áureos do xenófobo jörg haider.

ponta, que assume passar «75% do tempo nas reuniões do governo dedicado à luta partidária», sacode a pressão internacional e afirma que «não é angela merkel quem vota no referendo de dia 29, mas sim o povo romeno».

pedro.guerreiro@sol.pt