Crédito Agrícola: ‘Estamos muito robustos’

Está entre os oito maiores bancos de Portugal e tem sido alvo das inspecções da troika, passando os testes com sucesso. Pouco se tem falado deste grupo financeiro, mas talvez seja dos que melhores notícias tem para dar: sólido e com liquidez, o Crédito Agrícola encara o futuro com «tranquilidade».

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como está a ser o ano de 2012 para o crédito agrícola?
o primeiro semestre foi o reflexo da situação económica. mas embora tenhamos sentido o impacto da crise, os resultados foram muito folgados. segundo os númerosmais recentes, e que revelo em primeira mão, a actividade bancária do grupo teve lucros de 23 milhões de euros, quase 24% abaixo do mesmo período em 2011. são números amplamente positivos e acima das estimativas feitas nos funding plans que foram discutidos com a troika. os resultados consolidados do grupo são superiores, porque as nossas seguradoras são das mais rentáveis do mercado. mas os valores finais ainda não estão fechados.

como explica a quebra?
há a convergência de dois factores: as imparidades decorrentes da actividade económica, que tem vindo a deteriorar-se; e o aumento do custo médio dos recursos do crédito agrícola.

devido à guerra de depósitos?
sim. embora mantenhamos uma política muito conservadora na remuneração dos depósitos, é evidente que temos de reagir ao mercado que se tornou muito agressivo mesmo com as novas regras do banco de portugal para tentar limitar este fenómeno. além das necessidades de capital e liquidez, o grande problema que a banca portuguesa enfrenta agora é o da rentabilidade.

e como estão em termos de solvabilidade e liquidez?
temos rácios core tier i de 12%, muito acima dos exigidos pelo supervisor (9%) e um rácio de transformação de depósitos em crédito abaixo dos 90% (a meta é de 120%). para um balanço de cerca de 14 mil milhões de euros, o grupo tem fundos próprios de cerca de 1,2 mil milhões de euros e depósitos de 9 mil milhões de euros, o que nos dá uma situação de conforto e solidez financeira.

não têm sido afectados pela crise?
a crise afecta-nos porque afecta o ambiente económico e social em que operamos. mas como praticamos um tipo de banca de base corporativa – que é especial e vive muito do contacto directo com a comunidade onde opera – e o facto de sermos muito conservadores nunca alavancámos os balanços quando a crise rebentou. encarámos essa situação a partir de um ponto de grande conforto.

qual é a vossa exposição junto do bce?
à volta de 1,5 mil milhões de euros e tem-se mantido estável.

quais foram até agora os resultados das avaliações da troika?
o crédito agrícola foi submetido aos mesmos testes que os outros sete maiores bancos portugueses e tem passado com relativa facilidade. nos últimos dez anos reformámos muito os fundos próprios e tínhamos provisões extraordinárias que mais do que acomodaram as necessidades de aprovisionamento identificadas.

em que consiste o vosso plano de capitalização apresentado ao banco de portugal?
como à partida tínhamos níveis de conforto, tivemos apenas de explicar como é que avaliamos a evolução até 2015 e as implicações que isso terá na instituição.

têm de vender carteiras de crédito e activos, e/ou aumentar o capital?
não temos nada previsto, porque temos os níveis de liquidez e solvabilidade adequados.

e fecho de balcões ou redução de pessoal?
não. até devemos ser uma das poucas instituições que continua a abrir balcões, que já somam cerca de 700 por todo o país. mas vamos prosseguir com movimento de fusão de caixas no sentido de ganhar massa crítica e escala. o crédito agrícola é composto por 84 caixas e há cerca de meia dúzia a discutirem esse tema agora.

vão recorrer à linha de recapitalização da troika para a banca?
não. encaramos o futuro com alguma tranquilidade, embora preocupados porque a situação do país se tem vindo a agravar.

as imparidades que registaram decorrem de investimentos em dívida soberana de algum país da europa?
não. temos dívida soberana portuguesa, sobretudo dívida de curto prazo. as nossas imparidades devem-se ao mau momento económico.

um dos efeitos mais evidentes desta crise é o corte de crédito …
é preciso ter cuidado nisso, porque a partir de um determinado momento não sabemos se são os bancos a cortar o crédito ou se há uma diminuição da procura, porque as empresas estão em dificuldades ou decidiram travar projectos. há uma bola de neve que vai rodando. num grupo como o crédito agrícola, que não tem problemas de liquidez, o crédito está estável e isso não decorre de nenhuma atitude nossa de contracção da oferta, mas de um ambiente económico global negativo.

como é que se divide a vossa carteira de crédito?
estamos muito vocacionados para apoiar o pequeno negócio.

têm sentido um aumento do malparado?
está a evoluir tanto das empresas como das famílias, mas ainda assim temos conseguido um comportamento melhor do que a média do sistema nos últimos três anos, mesmo mais recentemente, por causa da proximidade.

a vossa área seguradora tem conseguido bons resultados. mas já tem a dimensão certa? querem continuar a crescer organicamente ou admitem interesse em comprar, por exemplo, alguma das companhias no mercado, como do grupo caixa?
não. queremos continuar bem o nosso crescimento orgânico.

 

tania.ferreira@sol.pt