A magia do pássaro Antony em Cascais

A presença de Antony and the Johnsons em Portugal já não é uma surpresa, mas em Cascais, com a Orquestra Sinfonietta de Lisboa, o músico mostrou, mais uma vez, a sua emocionante singulariedade.

depois de várias passagens por portugal, assistir a um concerto de antony and the johnsons perdeu, naturalmente, algum do efeito surpresa que as suas primeiras actuações por cá (teatro ibérico, lux e aula magna) provocaram. mas ontem à noite, no hipódromo de cascais, acompanhado pela orquestra sinfonietta de lisboa, o músico transgénero mostrou que um espectáculo seu é sempre uma experiência irrepetível, especialmente devido à carga emocional elevadíssima que se atinge.

vestido todo de preto, em contraste com os trajes totalmente brancos dos músicos atrás de si, antony entrou em palco a entoar melodicamente, em português, ‘boa noite, cascais. boa noite, cascais’. depois foi um prato cheio de emoções, com as canções reinventadas pelo maestro anthony weeden a fazerem sobressair ainda mais (se é que isso é possível) a candura e singulariedade interpretativa de antony.

a contribuir para a noite especial que se viveu em cascais, esteve igualmente uma plateia absolutamente reverente, que deixou (e muito bem) que os silêncios fizessem parte do espectáculo, ao ponto de se ouvir, de vez em quando, o barulho das cigarras.

a euforia subiu de tom quando começaram a desfilar canções conhecidas como ‘cripple and the starfish’, ‘for today i am a boy’, ‘another world’, ‘kiss my name’ e ‘you are my sister’, com níveis de devoção adequados para a música contemplativa de antony.

o concerto já ia longo quando o músico se dirigiu à plateia para explicar, durante uns 15 minutos, o tema ‘salt silver oxygen’, onde expõe as suas preocupações actuais em relação ao ambiente, à biodiversidade, ao aquecimento global e ao modo como o homem está a destruir a terra (ver entrevista que o músico deu ao sol).

salientando que a natureza é a sua religião, a mensagem de antony tornou-se ainda mais comovente com a ajuda de um passarinho que, durante todo o espectáculo, sobrevoou o palco, numa comunhão absolutamente mágica com o artista (no seu segundo álbum, de 2005, antony já bem dizia: i am a bird now).

alexandra.ho@sol.pt