Aprender a arte de apanhar ondas

As escolas de surf na Costa da Caparica multiplicam-se de ano para ano, ou não fosse esta a zona preferencial de praia dos lisboetas. Com elas, cresce também o número de pessoas que se quer iniciar no desporto.

a primeira vez que érica viu barbie em vida de sereia foi há já alguns meses, ainda estávamos no inverno, mas desde então nunca mais lhe saiu uma ideia da cabeça: aprender a fazer surf. no filme, a famosa boneca vive em malibu, na califórnia, costa oeste dos estados unidos, é campeã mundial de surf e, mais tarde, descobre que também é uma sereia. como qualquer menina de seis anos, érica ficou encantada com a descoberta da nova identidade da barbie, mas foi o surf que mais a fascinou.

«desde essa altura, assim que acabou de ver o filme, ela começou logo a pedir para vir aprender a fazer surf», conta sandra pichstein, a mãe de érica, acrescentando que a filha também conseguiu convencer o seu irmão a ir com ela. «o surf passou a ser uma coisa dos dois, tio-sobrinha».

no entanto, a ansiedade para começar as aulas era tanta, que érica acabou por se antecipar ao tio, andré pichstein, de 33 anos, e fez a sua estreia sozinha. «estava indecisa se a colocava, durante uma semana, num atl, mas como ela ainda é muito pequenina decidi que era melhor ter as aulas individuais, ao fim-de-semana. assim, também pode vir tranquilamente com o meu irmão», comenta sandra, explicando que optou pelo_centro internacional de surf, na costa da caparica, por aceitarem crianças com seis anos de idade (na grande maioria das escolas a iniciação dá-se a partir dos sete).

no sábado passado, dia 21, foi então a primeira vez que tio e sobrinha foram ‘apanhar ondas’ juntos. apesar de só ir na terceira aula, érica mostrou imensa descontracção e confiança, além de uma vocação invulgar para o desporto. mesmo antes de os professores começarem o aquecimento, ela já fazia, sucessivamente, o pino junto às pranchas estendidas na areia.

«ela faz ginástica rítmica de competição», apressou-se a mãe a explicar, acrescentando que desde a primeira aula, érica «passou a contar os dias» até ao próximo contacto com a prancha. «é muito engraçado porque na primeira aula ela ficou com frio a meio e teve de sair da água. mas ao fim de uns minutos na areia já estava arrependida e agarrou na prancha, virou-se para mim e disse com toda a convicção: ‘vou surfar’!», comenta bem disposta sandra pichstein, que também já ficou contagiada pelo entusiasmo da filha e só está à espera que uns primos cheguem da alemanha de férias para também experimentar o desporto.

na costa da caparica há várias escolas, mas o centro internacional de surf (cis) é uma das mais concorridas. o facto de já estarem ali há dez anos e «da curiosidade em relação ao estilo de vida, nomeadamente no que toca à liberdade e relaxamento que o surf proporciona» estar a crescer são, segundo adão coelho, um dos responsáveis pelo cis, dois dos factores que mais têm influenciado o aumento de alunos. mas no que toca ao sexo feminino há outro motivo bem mais mediático: os morangos com açúcar.

quem o garante é miguel almeida, que acaba de inaugurar na praia nova, também na costa da caparica, a surf academia, no bar marrocos ocean club. professor de educação física, miguel dá aulas de surf há 16 anos e assegura que «há coisa de seis, sete anos deu-se o boom das raparigas». «agora já é comum ver uma rapariga vir sozinha para a praia e sair do carro com uma prancha. mas aqui há uns anos eram só rapazes no mar e os morangos, porque tinham algumas personagens femininas na série que praticavam surf , vieram mudar isso».

as amigas ana matos, de 24 anos, e ana guerra, de 23, também resolveram fazer a primeira aula no fim-de-semana passado, mas não foi a série juvenil que as encorajou a vir. foi, antes, o amigo joão martins, de 30 anos, que começou a praticar surf há um ano. «um dia ofereceram-me um daqueles presentes d’a vida é bela e era uma aula de surf. vim experimentar e adorei. desde então, venho sempre que posso», conta, confirmando a teoria de adão coelho: «quem experimenta uma vez volta sempre». e traz amigos.

alternativa ao ginásio

ana matos e ana guerra são as primeiras a assumir que vieram por causa da experiência positiva de joão. e, apesar de alguma resistência quando o professor zé pais explica, ainda na areia, os movimentos que têm de fazer para se colocarem em pé na prancha, a motivação é grande. «queria experimentar, mas como sou muito preguiçosa no que toca a exercício físico, estava um pouco reticente. mas é espectacular, bem melhor do que estava à espera. especialmente a adrenalina com que se fica quando se está ali a tentar apanhar a onda», descreve ana matos quando sai do mar, depois de uma hora e meia na água. ao seu lado, zé pais acena afirmativamente com a cabeça. «a primeira aulas deles [as duas anas e andré pichstein, tio de érica] foi muito boa. normalmente as pessoas ficam muito tensas, agarradas à prancha, mas eles conseguiram descontrair», diz.

umas praias mais à frente, com o professor miguel almeida, o casal joão e filipa almeida não é tão optimista. «foi divertido, mas é difícil. é mais complicado do que imaginava porque é muita coisa para coordenar ao mesmo tempo», menciona filipa, de 29 anos. ainda assim, ela e o marido não escondem a vontade de repetir a experiência.

durante o verão, há aulas todos os dias (uma de manhã e outra ao fim da tarde) nas escolas de surf da costa da caparica e os preços variam entre os 20 e os 25 euros por cada aula. um valor «acessível», considera miguel almeida, uma vez «que em portugal há quem cobre até 55 euros».

no inverno, estas escolas também funcionam, mas os professores dizem que o mar no verão é mais simpático para quem quer iniciar a actividade, «uma óptima alternativa ao ginásio», sublinha miguel almeida. «tenho vários alunos que querem fazer exercício, mas não têm paciência para se enfiar num ginásio e, por isso, encontram no surf a actividade ideal para ficar em boa forma física». algo que no verão é sempre levado em consideração.

alexandra.ho@sol.pt