em 1974, os psicólogos donald dutton e arthur aron apresentaram um estudo elucidativo sobre o tema intitulado ‘a ponte que range’. existem duas pontes pedestres que atravessam o estreito de capilano canyon a norte de vancouver: uma é frágil e ergue-se a 70 metros de altura, oscilando por cima dos pedregulhos e do rio; a outra é firme, larga e baixa. dutton e aron pediram a mais de 30 homens para atravessarem uma ou outra. no meio da ponte estava uma jovem atraente que lhes pedia para preencherem um questionário e que lhes fornecia o telefone caso eles tivessem dúvidas. nenhum deles sabia que ela fazia parte da experiência. nove dos 32 homens que atravessaram a ponte estreita e oscilante sentiram-se suficientemente atraídos para lhe telefonarem; apenas dois que a encontraram na ponte baixa a contactaram.
se o perigo estimula a adrenalina, tornando o nosso coração mais afectuoso, a novidade eleva os níveis de dopamina. por isso, digo tantas vezes que o novo é irresistível. o perigo associado à novidade proporcionam uma combinação explosiva, talvez por isso a traição seja um prato que quase todos os seres humanos provam ao longo da vida e no qual muitos se viciam. mas eu acredito que há outros factores que levam à traição: há pessoas que não são capazes de guardar fidelidade, enquanto outras são incapazes de a equacionar numa relação dita séria e duradoura. e no meio ficam os outros, os que já traíram ocasionalmente mas não assumem, os que traem com frequência e sem culpa e, claro, do outro lado da realidade, os que foram traídos.
mesmo assim, gosto de acreditar que uma mulher feliz com o seu amado não comete traição, da mesma maneira que um homem, apaixonado pela mulher com quem está, não a trai. e se o faz é porque não a ama.
trair alguém não significa apenas mentir e enganar o outro. há uma vertente territorial física que é profundamente abalada com uma traição. não acredito que ninguém fique indiferente ao facto de a pessoa que amamos ter tocado ou entrado no corpo de outra pessoa, partilhando com ela momentos de intimidade dos quais nos julgávamos os exclusivos usufrutuários.
a traição dói como uma faca espetada no coração. podemos condenar, mas não podemos estranhar que apele a sentimentos de vingança, por vezes sanguinária, porque quando tal sucede não é a razão que fala, mas o instinto e as entranhas.
o que me deixa perplexa é a capacidade de algumas mulheres, e também de alguns homens, ignorarem as traições dos seus parceiros. conheço mulheres que não se importam de ser humilhadas pelos maridos, outras que não se importam de os sustentar. seguindo a mesma ordem de ideias, existem mulheres que não se importam de ser enganadas. mistérios da condição humana. é por isso que nunca vou deixar de escrever sobre ela.