além de querer mostrar afinco e dedicação ao cumprimento das reformas e ao programa de austeridade, o governo helénico vai pedir mais tempo para poder cumprir as obrigações a que está sujeito no acordo com o fmi, bce e ue, revelou na quarta-feira o financial times.
mas outra troika (cdu-csu e fdp, a coligação que governa a alemanha) nem quer ouvir falar do tema, pelo que se merkel mostrasse alguma abertura a samaras teria de lidar com um levantamento de rancho no bundestag. «não pode haver saldos nas reformas. o cumprimento das regras é essencial para a credibilidade na zona euro», comentou na quinta-feira o ministro da economia e vice-chanceler alemão, philip rösler.
para complicar uma situação já de si pouco linear, também samaras tem de aguentar a sua coligação tripartida (e contranatura). os seus parceiros socialistas do pasok e da esquerda democrática vivem momentos conturbados: angelos venizelos é contestado no seio do partido e os democratas de esquerda estão numa posição cada vez mais desconfortável face à austeridade, que falha em quase toda a linha.
com nova visita da troika a atenas agendada para setembro, samaras tem de encontrar uma solução política para sair do atoleiro. para poder receber nova fatia de empréstimo (31,5 mil milhões de euros), o governo tem de cortar 11,5 mil milhões no défice até 2014. e é este prazo que samaras quer adiar, não para as calendas gregas, mas para 2016.
em contracorrente, dois alemães vieram a público defender atenas. o ministro dos negócios estrangeiros, guido westerwelle mostrou compreensão para um possível alargamento do prazo: «o tempo que foi perdido nas campanhas eleitorais deve ser tido em conta». também o anterior chanceler, gerhard schröder, de férias na ilha de cós, apelou para os germânicos serem «solidários». «se a grécia avança nas reformas, deve-se dar tempo».
jigajoga do bce
mas tempo é dinheiro e ambos escasseiam em atenas. na última semana, uma jigajoga com o apoio do banco central europeu – que não pode emprestar directamente a nenhum estado – permitiu que o país não entrasse em incumprimento.
o banco central da grécia (na prática uma filial do bce) fez empréstimos aos bancos comerciais para estes, em troca, comprarem títulos do tesouro grego. dinheiro que na sua maioria regressa ao bce, pois dos 4 mil milhões leiloados, 3 mil milhões tinham de ser reembolsados até hoje.
face a esta situação, cada vez mais vozes na alemanha se levantam a pedir para não enviar nem mais um cêntimo para a grécia, defendendo a bancarrota como forma de atenas iniciar uma nova etapa, livre de dívidas.