Protagonistas do Mensalão

Saiba tudo sobre os principais nomes implicados no julgamento político do século no Brasil. ~Quem são e o que fazem

José Dirceu

Ministro-chefe da Casa Civil (o equivalente brasileiro de primeiro-ministro) durante o escândalo, Dirceu é acusado de ter estabelecido e liderado a rede de compra de votos que permitia ao Governo aprovar diplomas numa Câmara dos Deputados entre duas dezenas de partidos. A partir do Palácio do Planalto e, segundo a acusação, sem conhecimento do Presidente Lula, o número dois do Executivo ordenava o desvio de fundos públicos através de contratos fictícios com companhias de fachada e empresas amigas, para comprar depois o apoio político. O protagonista do caso arrisca até 15 anos de cadeia.

Marcos Valério

Era o publicitário preferido do Governo, mas cobrava mais do que fazia. O excedente, segundo a acusação do Ministério Público, seguia para os cofres da rede de compra de votos de deputados, e Valério cobrava a respectiva comissão. Terá ido a Portugal tentar angariar financiamento junto da PT e do BES – segundo a justiça brasileira, sem sucesso. Aparece agora no tribunal de cabeça rapada. Oficialmente, é uma homenagem ao filho que faleceu vítima de cancro. Mas, em Brasília, há quem tema que seja o próprio a lutar contra a morte. E, tendo os dias contados, que decida contar tudo o que sabe sobre o caso.

José Genuíno

Presidente do Partido dos Trabalhadores à data dos factos julgados, terá participado em reuniões com os líderes dos partidos ‘comprados’ no esquema do mensalão, indicando-lhes que diplomas os seus deputados teriam de aprovar. Terá ainda participado em operações de lavagem de dinheiro. De acordo com o Ministério Público, cumpria ordens de Dirceu, líder da rede. É hoje assessor do Ministério da Defesa, que em 2011 o condecorou pela sua participação na guerrilha do Araguaia, um movimento armado que combateu a ditadura militar nos anos 60 e 70 – é o único ex-guerrilheiro condecorado pelo Brasil.

João Paulo Cunha

Ex-presidente da Câmara dos Deputados e antiga estrela em ascensão do partido de Lula, desviou fundos do Parlamento para a rede de compra de votos através da celebração de contratos fictícios com as agências publicitárias de Marcos Valério. Era pago em dinheiro vivo, tendo sido apanhado quando as autoridades detectaram a mulher a levantar somas avultadas de uma agência do Banco Rural, braço financeiro da organização criminosa. A sua carreira política sobreviveu ao escândalo. Mantém o cargo de deputado federal, tendo sido o candidato mais votado em São Paulo nas eleições de 2006 e 2010.

Duda Mendonça

Chegou a ser o marketeer político mais bem-sucedido do Brasil, ajudando a eleger Lula da Silva e uma miríade de outros candidatos, tanto à esquerda como à direita. Fez centenas de milhões de euros que lhe financiam uma vida de luxo e excentricidade: tem um avião particular, um helicóptero, múltiplas propriedades e, à falta de brasão, criou um logótipo para a família, que ele e quatro filhos têm tatuado no corpo. No âmbito do mensalão, é acusado pelo Ministério Público de ter ajudado a lavar o dinheiro da rede através da sua empresa e de contas off-shore, tendo facturado mais de quatro milhões de euros.

Delúbio soares

Tesoureiro do PT à data dos factos, é apontado pela acusação como o director financeiro da rede de corrupção, aquele que ordenava o pagamento da ‘mesada’ dos deputados comprados e que ajudava a redigir os contratos fictícios com que a organização roubava fundos públicos. Deu demasiado nas vistas: professor do ensino básico, comprou propriedades agrícolas e apartamentos de luxo com dinheiro vivo, passou a vestir fatos caros e a fumar charutos cubanos. Os outros arguidos parecem ter decidido torná-lo num bode expiatório: «Delúbio» tem sido resposta para tudo no tribunal.)

pedro.guerreiro@sol.pt