tal como múltiplos projectos anunciados nos últimos anos, as fábricas da rpp solar para abrantes ficaram pelo caminho. a rio tinto descartou as minas de moncorvo, josé roquette perdeu financiamento para alqueva e o país foi contra uma parede chamada crise.
apesar do cenário depressivo, o ministro da economia, álvaro santos pereira, ainda tem cartas para jogar. mas, com o estado sem margem para investir e com o final da construção de sete auto-estradas a ameaçar atirar 50 mil trabalhadores para o desemprego, os trunfos estão agora nas mãos de investidores estrangeiros. do brasil à coreia do sul, passando pelo canadá, ainda há empresas estrangeiras que acreditam na viabilidade dos investimentos em portugal.
um dos projectos privados mais aguardados está prestes a ser inaugurado. a fabricante de aviões brasileira embraer tem tudo pronto para cortar a fita da nova unidade industrial, localizada em évora. «a implantação das duas novas fábricas segue dentro do ritmo previsto», diz ao_sol fonte oficial da embraer, a partir de são paulo, no brasil.
apoios do estado
o investimento de 177 milhões de euros contará com uma ajuda estatal directa de 47 milhões, que já está a entrar nos cofres da empresa. «já foram liquidados 65% dos pagamentos previstos», garante fonte oficial da aicep – agência para o investimento e comércio externo de portugal, que mediou as negociações para a instalação do projecto industrial entre o governo de josé sócrates e a empresa brasileira. «cerca de 20 milhões de euros foram pagos e 11 milhões estão em processo de liquidação._está tudo dentro do prazo».
além destes apoios, o governo aprovou em_conselho de ministros, em julho, um investimento de 30 milhões de euros para desenvolver o avião de transporte militar_kc-390, em conjunto com a empresa brasileira.
o projecto, que deverá criar 1.500 postos de trabalho directos e indirectos numa das regiões mais deprimidas do país, não corre risco de derrapar, estando a inauguração prevista para o dia 21 de setembro.
nem todos os grandes projectos foram esquecidos. o ministério tutelado por álvaro santos pereira continua em negociações para a exploração das minas de torre de moncorvo. apesar da desistência da rio tinto, este verão, há investidores coreanos, canadianos e brasileiros interessados no projecto, com quem álvaro santos pereira se mantém em contacto.
multinacionais em negociações
o ministério não confirma nomes de empresas, mas, no brasil, um potencial operador deverá ser a vale, a principal mineradora do país. é a segunda maior empresa do sector do mundo, com presença em 37 países de cinco continentes.
já a coreia do sul tem várias empresas no sector mineiro. a posco é a principal, sendo um dos maiores fabricantes mundiais de aço, mas a dongbu steel tem também uma posição relevante.
o canadá também alberga várias empresas mineiras, mas a lundin mining já tem presença em portugal, nas minas de neves corvo, pelo que poderá ser um parceiro privilegiado de negociação, tal como a colt, que já mostrou interesse em explorar o ouro alentejano do escoural.
as negociações são complexas e não implicam apenas a extracção de minério. toda a componente de logística e de transportes para o projecto tem de ser acautelada. por exemplo, o transporte entre as minas de torre de moncorvo e o porto de leixões deverá implicar um forte investimento na ferrovia ou ainda no transporte fluvial. a concessão deverá ser por várias décadas e as equipas do ministério não têm prazos definidos para a conclusão do processo negocial.
queda do investimento
a embraer e as minas de moncorvo mostram que os grandes projectos não morreram, resta saber se serão suficientes para animar uma economia que está em recessão há um ano e meio.
os números de investimento não são animadores. os dados do ine do segundo trimestre mostraram que a queda do investimento já é o principal motivo para a contracção do pib, e não o consumo interno.
a queda acumulada no investimento total da economia (público e privado) já atinge 36% desde 2009, segundo os dados da comissão europeia (ce). é um valor mais elevado do que o que ocorreu nos anos que se seguiram ao 25 de abril, marcados pela fuga de capitais e pela incerteza política. só este ano, estima a ce, há menos 3,3 mil milhões de euros na economia.