‘Geração coragem’ demora a impor-se

Nélson Oliveira, já com lugar na Selecção A, e Cédric Soares, titular no Sporting, são os únicos vice-campeões mundiais de sub-20 que, umano depois, se afirmamaomais alto nível.

um ano após portugal se ter sagrado vice-campeão mundial de sub-20 na colômbia, nélson oliveira é o único representante da ‘geração coragem’, comoficou conhecida, que já se estreou na selecção principal. 

não é caso para os seus companheiros
perderem a esperança
numa carreira auspiciosa – até
porque, entre os 34 campeões do
mundo de sub-20 em 1989 e 1991,
só figo, peixe, rui bento e filipe
chegaram à selecção a durante o
ano a seguir a esses títulos. mas
há sinais de um futuro menos
próspero para os vice-campeões
de 2011, como a presença de menos
jogadores em clubes de primeira
divisão e o desinteresse
quase generalizado de fc porto,
benfica e sporting em lançarem-nos na primeira equipa. 

a única excepção é olateral cédric
soares, que iniciou esta época
como titular em alvalade. não
há espaço para mais ninguém,
apesar de outros oito continuarem ligados
aos ‘grandes’: nélson
oliveira, roderick, luís martins
emika (benfica), sérgio oliveira
e tiago ferreira (fc porto), nuno
reis e luís ribeiro (sporting)
estão emprestados ou a rodar nas
equipas b. 

longe da ‘geração de ouro’
é gritante o contraste com o percurso
pós-mundial da famosa ‘geração
de ouro’.umano depois dos
títulos em riade-89 ou lisboa-91,
filipe, figo e peixe já eram titulares
no sporting, paulo sousa,
rui costa e joão pinto tinham
igual estatuto no benfica e o mesmo acontecia com fernando
couto
e jorge couto no fc porto. 

e no balneário de alvalade ainda
‘moravam’ nélson, capucho e
paulo torres, no da luz estavam
paulo madeira e abel xavier e no
das antas equipava-se morgado.
um total de 14 jogadores, num
universo de 34, que mais de duas
décadas depois fazem de cédric
uma gota num oceano. 

outra diferença abissal reflecte-
se na vontade que os ‘grandes’
demonstravam em contratar as
maiores pérolas do futebol nacional
(as poucas que não lhes pertenciam).
se nos anos 90 houve
uma corrida a esses jovens promissores
– o sporting atacou filipe,
amaral, capucho e nélson,
o fc porto foi atrás de fernando
couto, jorge costa emorgado e o
benfica ‘agarrou’ joão pinto e
abel xavier –, desta vez os três
maiores clubes nem se mexeram. 

é também um sinal dos novos
tempos, coma circulação livre de
pessoas na europa a levar cada
vez mais talentos portugueses
para o estrangeiro e a trazer para
o paísumsem-número de jogadores
de outras paragens. da ‘geração
de ouro’, joão pinto foi caso
único nas aventuras precoces
além-fronteiras, ao assinar pelo
atlético de madrid b com 18 anos,
ainda antes da lei bosman abrir
a porta à contratação massiva de
estrangeiros no espaço europeu. 

já na ‘geração coragem’ não faltam
emigrantes: nélson oliveira
e roderick (emprestados pelo
benfica ao deportivo da corunha,
da 1.ª liga espanhola), danilo e
máriorui (emprestados pelo parma,
da 1.ª liga italiana, ao roda,
do escalão principal da holada, e
ao spezia, do segundo italiano) e
ainda saná (bari, 2.ª liga de itália),
pelé (emprestado peloacmilan
aoarsenal de kiev, da 1.ª liga
da ucrânia) e júlio alves (vinculado
ao atlético demadrid). 

contas feitas, apenas 11 dos 21
vice-campeões do mundo de 2011
vão jogar em clubes de primeira
divisão esta época, enquanto da
equipa de 1989 já havia 12umano
depois do mundial e da selecção
de 1991 eram 16 (e na altura só
eram convocados 18 jogadores).
nada que abale a confiança do
seleccionador ilídio vale no futuro
dos seus antigos pupilos.
«ao contrário de muitos que
não acreditavam nesta geração,
eu vi potencial e uma forte
margem de progressão»,
afirma ao sol. 

é certo que nélson oliveira só
precisou de seis meses para chegar
à selecção principal e esse é
umestímulo para os outros – fernando
couto, paulo sousa ou rui
costa demoraram quase dois
anos após os seus mundiais de
sub-20.

mas o exemplo do avançado
que se estreou segunda-feira a
marcar na liga espanhola fica
longe de ofuscar a carreira dos
brasileiros que derrotaram portugal,
a 21 de agosto do ano passado:
10 jogam na liga principal
do brasil, seis estão em clubes de
topo em itália, como inter,milan
ou udinese, alex sandro e danilo
foram contratados pelo fc porto
e oscar rumou ao chelsea por 30
milhões de euros. é algo mais parecido
com o trajecto da ‘geração
de ouro’ do futebol português.

rui.antunes@sol.pt