neste período estival, permitam-me uma crónica mais ligeira.
a novela de miguel relvas fez-me irresistivelmente lembrar essa história.
tudo começou com o chamado ‘caso bairrão’ – um administrador da tvi que estava para ser secretário de estado e foi dispensado à última hora, alegadamente com base num relatório dos serviços de informações.
o ‘caso bairrão’ caiu, mas daí passou-se para os serviços secretos, onde supostamente ocorreriam fugas de informação.
e das fugas de informação passou-se para o caso do ‘super-espião’ jorge silva carvalho, acusado de ter levado informações do serviço em que trabalhava – o sied – para a ongoing, onde foi trabalhar.
sobre isso nunca se apurou nada de especial, para lá de umas informações genéricas alegadamente fornecidas a uma empresa que pretendia operar na rússia.
mas a novela não ficou por aqui.
veio a saber-se, entretanto, que o ‘super-espião’ tivera acesso à lista de chamadas de um jornalista do público, nuno simas, que escrevia precisamente sobre os serviços de informações, mostrando ter acesso a fontes privilegiadas.
abriu-se então um inquérito, tendo-se apurado que a lista de chamadas fora passada a silva carvalho por um colega, cuja mulher era funcionária da optimus.
e quando os ecos desse caso ainda não se tinham esfumado, veio a público que o ‘super-espião’ era membro da maçonaria, inscrito na loja mozart – o que imediatamente originou investigações sobre a referida loja.
e logo a seguir foram divulgados relatórios sobre a vida de figuras públicas como francisco pinto balsemão ou o jornalista ricardo costa, relatórios esses que silva carvalho teria encomendado aos serviços de informações do estado – o que também se concluiu não ser verdade, pois eram elaborados no seio da ongoing.
em contrapartida, apurou-se que silva carvalho enviava sms com recortes de imprensa a várias individualidades, entre as quais o político (igualmente maçon) miguel relvas.
miguel relvas foi então chamado ao parlamento para esclarecer as relações com o ‘super-espião’, tendo dito que o conhecia vagamente.
na sequência disso, uma jornalista do público, maria josé oliveira, que escrevia sobre o caso, disse-se vítima de pressão por parte de relvas, que teria ameaçado pôr na net o nome do seu namorado.
este episódio deu origem a inflamados plenários no público, acabando num litígio triangular entre a jornalista, a direcção do jornal e o conselho de redacção – que terminou com a jornalista a despedir-se e a ficar no desemprego.
e as alegadas pressões de relvas sobre a jornalista deram origem a um inquérito da erc, a uma nova audição parlamentar do ministro e a uma investigação detalhada sobre a sua vida, concluindo-se que se licenciara em apenas um ano, com recurso a equivalências baseadas no seu currículo profissional e político.
e esta notícia desencadearia uma enorme onda de indignação ‘popular’, com posts a correr nas redes sociais, com mais investigações, com pressões para que o ministro se demitisse, com manifestações públicas de repúdio e até com cartazes na volta a frança em bicicleta.
e aqui acaba – por enquanto – esta história.
podendo dizer-se, como na outra, ‘trrum-tum-tum que eu vou para angola’, pois relvas viveu lá vários anos.
a história do macaco de rabo cortado tem graça para contar às crianças.
mas quando mete um ‘super-espião’, os serviços de informações, a ongoing, jornalistas, o jornal público, a maçonaria, comissões parlamentares, miguel relvas, a universidade lusófona, a erc – é confusa demais para a acompanharmos como deve ser e para lhe acharmos piada.
um país que perde tanto tempo com uma novela tão medíocre perdeu todo o sentido do ridículo.
